Um domingo no Lolla

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E mais uma vez, tudo estava lindo e radiante no Lollapalooza de São Paulo! A começar pelo Sol, que me deixou com belas marcas no rosto e nos braços (so sexy!). E com certeza, não fui o único a sofrer com as altas temperaturas. Para onde olhava, tinha alguém tentando se proteger dos raios ultravioletas de alguma maneira, fosse cobrindo o rosto com a camiseta, com a bandeira, com o saquinho plástico que estava de sobra na mochila, ou se abanando com qualquer pedaço de papelão-merchandising que servisse de leque, ou até mesmo, usando o fundo do copo de cerveja para dar aquela refrescada na nuca ou no rosto (leia “eu”). Mas o calor, apesar de insuportável, é sempre bem-vindo em festivais como esse, à céu aberto. As pessoas se tornam mais alegres, beberronas e abertas à novas amizades, e isso, meu amigo, sempre será um ganho para a humanidade. Então, de um ponto de vista bastante positivo, o Lollapalooza faz bem para a saúde! Afinal, você pagou por isso, nada mais justo do que usufruir de tudo o que te deixe com o astral mais para “domingo no parque” do que para “domingo da depressão”. A começar pelo visual das pessoas ali presentes. Não sei se é uma tendência que cresceu ao longo dos últimos anos, nascida e padronizada ao longo de outras edições desse e de muitos outros festivais que rolaram por aqui, mas o Lolla, em termos de ‘looks’, mais parece um desfile de moda, com atenção especial para a ala feminina, é claro. Há exageros? Sim. Você que é mulher, saiba que salto alto é coisa de casamento e festa de formatura. Para festivais na grama, cimento e lama, o melhor mesmo é ter em mãos (pés, na verdade) o bom e velho All Star surrado. Mas, do calcanhar para cima e do último fio de cabelo para baixo, tudo é válido, e bom gosto não falta e nunca faltou para os frequentadores e (principalmente) frequentadoras do Lolla. Para onde você olha, tem gente bonita, e eu não sei você, amigo, mas eu gosto muito disso. Obviamente que não é só o público que entra nessa estatística. Sobre os palcos, muita gente cheia de estilo e talento, e é nesse último quesito que se encontra a parte que realmente importa… a música!

É válido dizer, antes de mais nada, que estive presente apenas no segundo dia do Lollapalooza, ou seja, no domingo. Cheguei cedo. Aliás, cheguei bem cedo; mais cedo impossível. Meu relógio não marcava onze da manhã e eu já estava na fila para entrar. “Mas porque tão cedo, cara?”

Acontece que sou um roqueiro eclético (me tornei, ao longo do tempo…), e cheguei cedo pois queria ver o show da Francisca Valenzuela, aquela cantora chilena, jovem, que quase ninguém conhecia ou até mesmo, nunca havia ouvido falar. O público ainda estava fraco, e confesso que acho que fui o único que conseguiu acompanhar essa apresentação com 100% de aproveitamento. Para quem não conhece e quer conhecer um pouco mais de pop rock latino americano, eu (super) indico Francisca Valenzuela. Ela é ótima. E apesar de um tempo limitado para a apresentação, conseguiu animar o pouco do público que ali se encontrava. Ou seja, é bem capaz que dê para animar sua festa com o som da hermana, também.

Na sequência, veio a tão velha conhecida, barulhenta e talvez a banda mais amiga da garotada que o rock brasileiro já teve. Raimundos! A história aqui, já é o oposto da do parágrafo anterior. Todo mundo conhecia, todo mundo cantou juntinho e lembrou de como era bom todo aquele rock nervoso, tosco, barulhento e pornográfico dos anos 90. Foi coro em “Mulher de Fases”, bate-cabeça em “Esporrei na Manivela” e celebração total em “Eu Quero Ver o Oco”. Se fosse o Digão escrevendo aqui, ele diria “Véio, os cara são foda, véio!……… Véio!” (rs).

Ainda no mesmo palco dos Raimundos, gostaria de, mais uma vez, dar o meu ar eclético e destacar um show que fez todo mundo pular, embaixo de um sol escaldante, que foi o da cantora britânica Ellie Goulding. Uma pegada bem mais pop, sim. Beeeem mais pop! Mas ela não fez feio; levou uma gig de sete músicos para tocar no palco do Lolla. Não foi playback, não foi sampler, não foi loop e nem DJ com base pronta rolando no CD-J, que segurou o show dela. Não. Foi a banda, sua voz, sua disposição e todo o seu carisma. E ela se empolgou tanto, que chegou a tirar a camiseta (amarelinha, da seleção brasileira, com seu nome estampado nas costas) no final da apresentação. É que de acordo com a própria cantora, estava “muito quente!”. E estava mesmo. Naquela altura do campeonato, o Sol castigava. Qualquer gole de água me fazia sentir mais perto de um oásis no meio do deserto. Isso tudo aconteceu durante o dia, mas foi à noite que o negócio pegou fogo de verdade.

Até a hora do show do Soundgarden, acompanhei pouca coisa do que rolava, e para falar a verdade, nada do que estava acontecendo ali me chama, me chamou ou me chamava algum tipo de atenção (até mesmo antes do festival). Mas, foi quando o Sol terminou de baixar de vez, quando as luzes dos refletores se acenderam e iluminaram o céu e o palco, na sua total eficiência, que a história começou a ficar séria. Chris Cornell e sua turma estavam no palco. Os mesmos de 20 anos atrás, velhos barbudos e, tirando o nosso amigo Chris, que continua na sua forma mais elegante, barrigudos, sim. Mas com a mesma energia da época em que eram todos magrelos e desconjuntados, quando o som de Seattle reinava nos anos 90. Dessa vez, sem Matt Cameron na bateria, que agora está só no Pearl Jam, substituído pelo xará Matt Chamberlain, outro consagrado músico, que inclusive já tocou com o Pearl Jam, o quarteto trouxe o Palco Onix do Lollapalooza abaixo.

Chegou a ser irônico ver a arte do último álbum, ‘King Animal’, estampada o show inteiro como pano de fundo da banda. Isso porque eles tocaram apenas uma música do novo trabalho; “Been Away Too Long”. E como a própria já diz, eles estiverem distantes durante um bom tempo. E depois de tanto tempo, o setlist escolhido para o show no Brasil, com certeza não poderia ter sido outro. Clássicos e clássicos e mais clássicos, como “Searching With My Good Eye Closed”, que abriu o show, “Spoonman” que veio na sequência, “Outshined”, “Black Hole Sun”, “Burden in My Hand”, “Rusty Cage” e por aí vai.

Em determinado momento do show, Cornell pediu a atenção da platéia e disse “Nós escolhemos um setlist para a turnê, só que uma música ou outra sempre acabam sendo cortadas, devido ao tempo de palco. Mas, quando montamos o setlist para tocar no Brasil, sabíamos que essa música não poderia faltar”. E começava assim “Jesus Christ Pose”, uma das minhas mais esperadas (e pelo visto, pelo resto do público, também).

Mas se tivéssemos que definir a apresentação em uma palavra, esta seria ‘Superunknow’. O álbum de 1994 da banda comemora seus 20 anos e o setlist veio recheado dele, inclusive com a faixa título, “Superunknow”, outra canção que eu aguardava com muita expectativa.

E todas essas músicas, Cornell ainda canta? Canta! Não como antes, mas sua técnica vocal ainda lhe permite atingir notas muito altas, como as de “Beyond the Wheel”, música do primeiro álbum da banda, de 1988, que fechou a apresentação.
Foram 90 minutos de muito peso, muita energia e muita atitude, do jeito que o rock deve ser, sempre.

Acabado o show dos caras, parti em direção aos outros palcos. Uma parada de 20 minutos no show do Arcade Fire foi o suficiente para escutar as músicas que queria. A banda tem algumas canções muito boas, na minha opinião. Principalmente as que compõem o álbum ‘The Suburbs’, de 2011. Mas eles não me convenceram muito, ao vivo. Sobre o palco, eles são mais de dez integrantes, mas o som não estava bem preenchido. Acho que fui influenciado pelo fato deles terem sido escolhidos como um dos headliners do festival, o que não entra muito na minha cabeça. Coisas desse tipo têm acontecido com frequência; parece que os organizadores e a mídia dão mais importância às coisas de momento do que àquelas que realmente merecem mais atenção. É algo que aconteceu no Lolla do ano passado, e também em outros festivais, como o SWU.

Mas a verdade é que, se o Arcade Fire não estivesse tocando exatamente ao mesmo tempo em que o New Order fazia sua apresentação em outro palco, talvez o espaço não suportasse o número de pessoas. Digo isso, pois o show do New Order estava simplesmente bombando! Com certeza, foi o show mais curtido pelo público presente. E eles sim, merecem o patamar de headliners, pois mandam muito bem ao vivo. Com timbres perfeitos e clássicos como “Temptation” , “Blue Monday” e “Bizarre Love Triangle”, mais três covers do Joy Division, a banda parecia ter saído direto dos anos 80 para o Lolla, e fez o público delirar. Praticamente uma balada à ceu aberto, com direito à figurões arriscando seus passinhos de dança.

E esse foi o final de mais um Lollapalooza. Um Lollapalooza que, em termos de infraestrutura, foi o melhor que já tivemos por aqui. Alguns reclamaram que os palcos eram muito distantes entre si, e isso é verdade, mas ao mesmo tempo, foi o que ajudou a manter o som de um completamente isolado do outro. Não houve vazamento, não houve interferências e sobras da tenda eletrônica, como aconteceu nos últimos dois anos. Além disso, a estrutura de alimentação estava mais preparada. No cardápio, muito mais opções para oferecer ao público, com direito à uma tenda bem grande só com comida boa; a chef’s stage, novidade dessa edição do Lolla. E diferente das outras duas edições, esse ano os organizadores se empenharam no projeto ‘fila zero’. Estive lá das 11h até às 22h e, sem brincadeiras, não peguei nenhuma fila. Nada! ZERO! Fosse para comprar ficha, pegar cerveja, comida, ou para ir ao banheiro, o caminho sempre esteve livre. As únicas filas grandes que se formavam eram para visitar os stands e atrações, como pista de patinação e roda-gigante, desenvolvidas pelos patrocinadores do festival.

Quanto à localização, o autódromo é um tanto quanto fora de mão, e como cheguei cedo, não tive problemas para estacionar o carro. Eu não comprei o estacionamento oficial e não sei como estava o seu estado, portanto, não tenho opinião formada à respeito disso. A única coisa que posso dizer, é que não peguei trânsito, tanto para ir quanto para voltar. Acredito que isso não tenha sido válido para o dia todo. Quem optou por ir mais tarde, de carro, com certeza enfrentou o mínimo de congestionamento. Enfim, não foi isso que tirou o brilho do festival, e como vocês podem ver, a edição de 2014 trouxe muitos pontos positivos para o Lollapalooza.

Espero ter a chance de começar uma resenha sobre a próxima edição da mesma forma que comecei esta. E mais uma vez, tudo estava lindo e radiante no Lollapalooza de São Paulo!

 

Fotos: Mila Milahy/ I Hate Flash; Marcelo Rossi / T4F Divulgação

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