Angra: fascinante comemoração dos 20 anos de Holy Land, em São Paulo

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A noite paulistana com temperatura um tanto quanto gelada estava prestes a ser marcada por uma apresentação colossal de uma banda literamente conterrânea, o  Angra. A apresentação foi no Tom Brasil, situado na Zona Sul de São Paulo.

Existia uma fila que fluía bem, e era possível ver estampas de vários álbuns da banda em questão no peito de uns 60% dos fãs.  Na entrada, uma recepção bem calorosa na venda dos merchans: itens (alguns inusitados, como hoodies, chinelos e até as cervejas Angels Cry e Holy Land) não só do Angra, como dos músicos Rafael Bittencourt, Marcelo Barbosa e Luis Mariucci. As camisetas comemorativas da turnê se espalharam pelo público.

A abertura ficou por conta do Bruno Sutter. A banda é cheia de energia e interage o tempo todo com o público, que recepciona de maneira excelente. O frontman se diverte e faz breves explicações antes de cada faixa – por exemplo, dedica a balada (não tão balada assim) I Bloody Love to Love You para a esposa, e comenta que a The Best Singer in the World  é sobre a humildade de rockstars.

Em dado momento, o baterista (Christian Oliveira, de apenas 17 anos, filho do Rodrigo Oliveira (Korzus)) estoura a caixa, e enquanto os ajustes técnicos são feitos uma breve versão de Eagle Fly Free (Helloween) é iniciada à capella por Sutter.

A última faixa é a esperada Galopeira, da dupla Chitãozinho e Xororó, em uma versão heavy metal impecável.

Holy Land – show your signs to me!

Tocava o clássico Highway to Hell (AC/DC) na ansiosa abertura para o show. As luzes estavam apagadas, e uma criança de cabelos longos surge no palco, tímida, e diz “Boa noite, São Paulo! Vocês gostam do Angra? Eu amo o Angra! Com vocês, Angra!“. E aquela foi só uma das surpresas da noite.

Prosseguido pela entrada triunfal da banda ao abrir as cortinas, os músicos assumem o palco com muita presença, o que a caracteriza. O palco é bem estruturado, com duas baterias montadas (o que já denunciava o que estava por vir) em um nível acima, com uma escada entre elas. Em um canto está o tecladista Junior Carelli, com dois teclados e um sintetizador, e no outro o percussionista Dedé Reis. Uma bateria fica com o Bruno Valverde, enquanto Bittencourt, Barbosa e Felipe Andreoli percorrem livremente o palco. O frontman Fabio Lione surge de trás das escadas, no centro do palco.

As faixas Newborn Me, Wings of Reality e Waiting Silence foram tocadas com muita interação, e os músicos são bem atenciosos com o público. O vocalista então anuncia o baterista Ricardo Confessori, para delírio dos presentes ali. E então pergunta o nome da primeira faixa do Holy Land, em uma vibração insana da plateia: Nothing to Say é executada por dois bateristas, que revezam ou fazem viradas duplas. Lione se relaciona bastante com a galera, que bate palma de acordo com o ritmo do pré-solo. Literalmente, nothing to say.

Silence and Distance é iniciada apenas com voz e teclados, com uma emocionante inserção do baixo, e depois as guitarras, em uma explosão nos instrumentos. Apenas Confessori na bateria dessa vez, e Andreoli se aproxima em uma parte com levadas monstruosas.

A próxima faixa é anunciada por Fabio como a mais emblemática do álbum – Carolina IV – e mais uma vez Confessori e Valverde tocam juntos. Em uma intro quase jam com uma sincronia perfeita com as batidas roots de Dedé, a mistura de tambores e pedais duplos é nada menos que fascinante. A introdução de “salve, salve Iemanjá, salve Janaína…” é cantada por Rafael (com um microfone auricular, o que facilita sua performance durante todo o show) e Andreoli, e o vocal principal fica com Lione. É diferente ouvir uma faixa tão característica na voz de outra pessoa, entretanto Lione consegue cantá-la à sua maneira, sem descaracterizar. Foco para o trecho de “under sail we go!“, todos da plateia cantaram ao mesmo tempo. O solo foi recheado de “hey, hey, hey” a cada virada, e a segunda parte se deu pela combinação explosiva de Confessori com Bittencourt.

O vocalista apresenta Dedé, depois brinca perguntando se seu português melhorou, já que o sotaque italiano ainda é (realmente) forte. Holy Land é anunciada também como emblemática, por envolver a cultura brasileira e o rock, transcendendo o heavy metal. É uma faixa muito característica, com Bittencourt marcando ritmo com uma maraca, ao passo que Dedé estava com outro instrumento com a mesma função (um provável pandeiro meia lua), e apenas Ricardo na bateria. Uma vibe sensacional, ficava nítida a serenidade dos “originais” banda terem feito essa mistura certeira há 20 anos, enquanto os “novatos” se orgulhavam em fazer parte disso.

Andreoli deixa o palco, convidando Mariucci para tomar seu lugar. The Shaman é a próxima, intensa, com a notável sincronia de percussão entre Confessori e Dedé, e ao final da música, Bittencourt literalmente tira o chapéu para o baixista que está no palco. A profunda e emocionante Make Believe é iniciada com foco de luz no tecladista. O guitarrista original que a canta, com um violão, e o público tem uma boa reação. Ela tem uma atmosfera quase hipnótica.

Algumas pessoas pulam durante o início de Z.I.T.O., que é executada no modo hard. E então, um curioso coro “o que é Z.I.T.O.?” acontece e Bittencourt questiona o motivo dos fãs se questionarem e se apegarem sobre a emblemática sigla, quando o significado está no texto. Depois, anuncia que é uma honra cantar algo de um compositor tão bom que já passou pelo grupo, e canta com emoção e inspirado a Deep Blue, em uma versão acústica, com o resto da banda entrando na parte mais pesada da música.

Final Light apresenta vibe bem agitada, com muitos headbangings, no jeito Angra de ser. Fabio se desculpa pela “poliglotisse” (segundo ele, fala português, inglês, francês, italiano e espanhol e acaba misturando tudo), e anuncia uma balada de Angels Cry, “desbadalada” por Rafael, a incrível Time, com agudos estridentíssimos e backings do fundador. Mais uma faixa de Secret Garden, Storm of Emotions, o italiano comenta que foi composta em uma passagem pelo litoral, e o refrão foi bem cantado pelo público.

Um break da banda e o público chamava pela banda. Rafael surge com um violão e a bata que usou na época do Holy Land, e canta Lullaby for Lucifer, com todo nítido amor que tem pela banda, por todos esses anos. A iluminação é focada apenas nele, e muitos celulares podem ser vistos na plateia, formando uma imagem muito bonita.  Ele ainda dedica a Silent Call para a filha, e diz que ela talvez nunca o viu tocar por achar muito barulhento, em uma versão acústica e emocionante.

Uma jam com o Bruno, com bastante interação com o público, mostrando todas as suas habilidades, mandando ver nos pedais, atingindo velocidades bem altas, inclusive toca de pé e girando as baquetas. Ah, cabe ressaltar que ele as segura como no jazz.

Rebirth e Angels and Demons são executadas bem enérgicas, com alguns fãs pulando e bangueando, e uma inesperada Nova Era para fechar o set. Mas para fechar aquela noite icônica com chave de ouro, um cover de You Really Got Me  e uma festa com todos os músicos, além do Edu Ardanuy e Bruno Sutter.

Um show de mais de duas horas repletas de intensidade e homenagem ao vigésimo aniversário da obra que tem por inspiração a chegada dos portugueses ao Brasil, com convidados que tornaram a apresentação ainda mais especial. Não existiriam palavras para descrever caso o encontro fosse original e  completo. Mesmo assim, uma apresentação memorável e tocada em grande estilo. Podemos esperar uma no mesmo estilo com Fireworks?

 

Setlist Bruno Sutter

My Boss is a Corpse
Stalker
GrAttitude
Troll
Socorro
I Bloody Love to Love You
Provoke Yourself
The Best Singer in the World
Galopeira

 

Setlist Angra 

Intro/Newborn Me
Wings of Reality
Waiting Silence
Nothing to Say
Silence and Distance
Carolina IV
Holy Land
The Shaman
Make Believe
Z.I.T.O.
Deep Blue
Final Light
Time
Storm of Emotions
Lullaby for Lucifer
Silent Call
Rebirth
Angels and Demons

Encore:
Intro/Nova Era
You Really Got Me

** Todas as imagens publicadas nesta matéria são de autoria do fotógrafo Fabio Augusto Ferreira.

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