Carrie Fisher: 2016 me obriga a escrever

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Estamos em dezembro. No finzinho dele, para ser mais exato. Mas todos os dias são como a madrugada de 10 de Janeiro, quando repeti mentalmente a palavra “mentira” pelo menos cem vezes até cair a ficha de que David Bowie não estava mais entre nós. O luto não me impediu de sorrir para as pouquíssimas coisas boas que aconteceram este ano, mas a morte de um artista com o qual você tinha uma certa afinidade é sempre algo chocante e triste. Especialmente quando você estava falando sobre ele pouco tempo antes de saber que ele se foi.

O problema é que 2016 não me deixou viver o luto por Bowie em paz. Pete BurnsGene WilderAnton YelchinAlan RickmanGeorge Michael. Esses são apenas alguns nomes da longa lista de pessoas que partiram para o descanso eterno este ano. Artistas que dediquei tardes inteiras à audição de seus trabalhos ou que fizeram parte de filmes que marcaram minha curta vida nos deixaram com o coração na mão. E a cada notícia lida, mais aquele pobre órgão que ainda sente pela morte do Bowie sentia-se mais perdido e triste.

Sexta-feira, assim como a notícia pesada que recebemos domingo, fui pego de surpresa com o infarto sofrido por Carrie Fisher – a Princesa Leia que cresci vendo na tevê em Guerra Nas Estrelas (e só o fato de escrever o título em português já entrega muita coisa sobre o tempo que a conheço). Carrie deu vida a uma das poucas princesas de uma infância onde os clássicos Disney ainda eram figurinha marcada que não pertencia a um mundinho faz-de-conta onde há príncipes encantados e donzelas em perigo. Leia era uma mulher bacana, que ajudou na guerra contra o império e atirava melhor do que eu. Se os tempos fossem outros, tenho certeza de que ela seria uma Jedi!

Arrisco dizer que muito do que Leia é veio da própria atriz, que aparentemente reescrevia muitos dos diálogos nos roteiros de Guerra Nas Estrelas. A prática lhe rendeu uma carreira rentável como Script Doctor, pessoa contratada para revisar e dar um “up” em roteiros de filmes, nos anos 90. Só para você ter uma ideia, roteiros de clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa como Mudança de HábitoMeu Primeiro Amor: Segunda ParteHook: A Volta do Capitão Gancho passaram pelas mãos daquela que um dia defendeu a galáxia. Porra, até Máquina Mortífera 3 foi revisado por ela. Olha a versatilidade da mulher!

Carrie também foi uma personalidade reconfortante em Hollywood. Sem papas na língua, a mulher falava abertamente de suas doenças mentais e do quão desconfortável era a pressão para “envelhecer bem” e o notório descaso com atrizes que envelheceram dentro de seu ambiente de trabalho. Só para vocês terem uma ideia, alguns de seus últimos tweets foram sobre o uso de dublê de corpo para a Princesa Leia em Rogue One, porque segundo o diretor a atriz “não conseguiria dar conta do recado por estar velha demais”.

Nossa eterna Princesa Leia pode ter vivido todos esses anos à sombra de Guerra nas Estrelas, mas tenho certeza que seus discursos ajudaram muitas pessoas – mulheres, principalmente – a lidar com doenças como Transtorno Bipolar e a se aceitarem, mesmo que a idade tenha levado embora a “beleza estética”. E, no meio tempo, ela ainda encontrou tempo para escrever sete livros, o mais recente tendo sido publicado ainda este ano (The Princess Diaries).

Hoje está difícil de acreditar que Carrie Fisher se foi. Porque eu torci tanto para que ela se recuperasse. Porque eu passei o Natal inteiro acreditando em toda e qualquer notícia que me desse a esperança de que ela terminaria o ano bem, pronta para mais um Episódio produzido pela Disney… mas ela morreu. De verdade. E dessa vez, com muita dor no coração, 2016 me obriga a escrever esse adeus guardado por doze meses cruéis, e que agora externo para Carrie.

Que a força esteja com vocês.

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