Boas e más notícias, vem e vão e esse é um fluxo muito comum na vida de cada pessoa. Contudo, quando recebi a notícia sobre o Chorão (vocalista do Charlie Brown Jr) logo pensei: Eu preciso escrever algo sobre ele.
O calor do momento nos estimula a escrever e publicar algo rapidamente, entretanto com o sensacionalismo da mídia e a falta de respeito de muitos jornais e pessoas que saturaram tanto a rede quanto (muito provavelmente) os familiares, amigos e fãs que realmente sofreram com a notícia, preferi esperar um pouco. Em respeito a essas pessoas, o melhor seria escrever quando a poeira baixasse.
É impressionante como o Chorão era a alma e a cara da banda. Seu jeito sem modos ou padrões de fazer poesia, de criticar a sociedade, as pessoas e de se colocar sempre na linha de frente para atacar quem o incomodasse, fazia dele um artista de personalidade muito forte. Sua postura não dava muitas escolhas aos ouvintes: ou você gosta ou não gosta de Charlie Brown Jr (sem meios termos). Lembro que sua identificação com a banda era tão grande que era comum, para os leigos, pensarem que o Chorão se chamava Charlie Brown Jr ou fazer qualquer confusão deste tipo.
A perda de artistas desse tipo me faz pensar um pouco sobre o que essa geração atual está ouvindo. Cada vez vejo um número menor de músicos que se preocupam com a situação do país, ou com algo diferente que não seja tocar no Faustão ou participar do show da virada. Vejo músicos relançando seus sucessos antigos, cantando sempre as mesmas músicas que ao invés de clássicos ao meio de músicas novas, tornam-se repetecos. E por que estou falando isso? Porque em 15 anos, o Charlie Brown conseguiu lançar 09 álbuns de estúdio e ainda estaria para vir mais 01 álbum, sempre tinha uma música nova deles na rádio. Não importa se era boa ou ruim, se gostassem ou não, era uma banda que produzia constantemente e esse artista merece ser valorizado.
Chorão tinha paixão pelo que fazia e não se importava se isso agradaria ou não. O que importava para ele era a sua maneira de se expressar ao mundo, seu sentimento de liberdade sobre as rodas de um skate e vento na cara. Era artista não pelo glamour ou por fama, mas por consequência. Encontrava na arte, sua válvula de escape, um meio de sobrevivência. Não vou me aprofundar nas causas ou motivos, o que já foi não está mais em nossas mãos. Nos resta as músicas, as memórias de uma geração, as intermináveis filas do “Playcenter” (parque de diversões em São Paulo, fechado em 2012) que tocavam na íntegra os álbuns do Charlie Brown (quem frequentou o parque entre 1999 e 2004, sabe do que estou falando), entre outras coisas.
Este é um registro simples de alguém que não curtia o trabalho do Charlie Brown Jr como um todo, entretanto o respeitava o Chorão (Alexandre Magno) como um artista brasileiro que conseguiu levar para um grande público, uma música diferente e foi trilha sonora de uma geração inteira de adolescentes que querendo ou não, conhecem pelo menos umas cinco músicas da banda que fizeram muito sucesso.
E lembre-se: Um dos principais movimentos do Rock é a liberdade de expressão e o direito de ser respeitado pelos próprios gostos. Rock de Verdade é não ter preconceitos e respeitar acima de tudo.