CARNE é o segundo clipe e faixa-tema do disco homônimo, e por isso carrega consigo muito da essência do disco em suas ondas elétricas de rock instrumental. É uma espécie de epicentro da ópera, onde o verbo – a voz, o som – se faz carne, a ideia ganha substância e vira matéria, mostrando o aspecto divino da criação. Dentro do contexto do disco, o protagonista de CARNE reflete sobre sua humanidade e se sente parte daquilo que observa – um grande pedaço de carne ambulante em unidade com a música, amalgamado. Carne que faz música.
Inicialmente as primeiras faíscas e notas de Carne foram inspiradas na arte do ilustrador francês McBess. Ele conta numa entrevista que quando sua mãe estava grávida dele, o médico recomendou que ela comesse carne pra que seu bebê fosse devidamente nutrido. Ela sempre fora vegetariana, mas naqueles 9 meses resolveu seguir a recomendação do médico e comeu bastante carne. O ilustrador brinca com o devaneio de que ele é filho dessa carne que sua mãe ingeriu durante a gravidez. Ou que ele mesmo é essa carne ingerida por sua mãe, que foi virando aos poucos um bebê dentro dela (interpretação que a santifica e a transforma numa Virgem Maria carnívora).
No clipe, outros aspectos também são abordados. Enquanto a banda toca, há cenas em que Victor pinta o retrato de uma modelo. Entretanto, o que aparece no quadro é um pedaço de carne fresca, como se o olhar do artista enxergasse nessa figura a essência do que observa. O artista se imbui da personagem do ilustrador francês McBess, que vê as pessoas como como a si mesmo: pedaços de carne que andam por aí, que amam, pensam e criam música. Por fim, as cenas mórbidas da cabeça do cachorro atestam a matéria-carne como o suporte definitivo da vida.
