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Detalhes do novo álbum do CPM 22 em entrevista exclusiva com Japinha

Após seis anos sem material inédito e uma estonteante apresentação no Rock in Rio, digna de gravação de DVD, o CPM 22 está lançando o sétimo álbum da carreira, intitulado “Suor e Sacrifício”, com 16 faixas na versão digital e 14 na versão física (CD). Conversamos com o baterista Ricardo Japinha, que detalhou o material e a plena fase da banda.

 

 

[Rock de Verdade] Eu escutei o álbum novo de vocês e pude perceber que as letras estão mais maduras, mais adultas, e também mais serenas. Como foi esse processo de composição?

[Ricardo Japinha] Essas letras aí são reflexo do momento que os meninos (a gente) estamos vivendo, meninos é jeito de falar, porque tá todo mundo ou beirando ou passando dos 40 (risos). Acho que a banda atingiu uma fase que… É o sétimo disco de estúdio, já tá com 4 DVDs, já fizemos acústico, já fizemos MTV Ao Vivo, já fizemos o DVD do Rock in Rio, então tudo isso dá uma tranquilidade também pra gente trabalhar, porque graças a Deus nesses 15 anos, profissionalmente falando, a gente raramente teve um fim de semana sem show, sabe? Então a gente pode ajoelhar e agradecer a Deus por poder viver de rock, o que é ainda mais difícil no Brasil. Isso tudo passa uma tranquilidade, ao mesmo tempo que a gente se dedica pra caramba, porque a gente curte muito o que a gente faz e valoriza poder trabalhar com som. Então, ao mesmo tempo que é um desafio, é uma coisa gostosa de se fazer. A gente adora gravar, temos um disquinho fresquinho na mão, poder fazer uma turnê nova, levar um som novo pra galera que curte nosso som, então acho que isso tudo é satisfatório e faz com que a gente se sinta tranquilo na hora de gravar, porque a gente sabe que tem uma galera que curte, a gente mesmo curte nosso som, então tudo isso junto faz a gente ficar feliz em gravar, e aí isso reflete nas letras, reflete no som, reflete nessa serenidade que você falou. É experiência, maturidade, satisfação, e até essa adrenalinazinha “pô, legal, um disco novo”, é muito prazeroso poder produzir um disco de rock em alto estilo aqui no Brasil, a gente é muito grato a isso. Acho que acaba refletindo… Todo mundo consciente disso, maduros, uns com filho, outros casados, outros separados, mas todo mundo vivendo bem, felizes, viajando todo final de semana, sabe? Isso é fruto do momento da gente.

 

[RDV] Teve alguma outra inspiração específica para a criação do álbum?

[Japinha] Se for buscar em outras esferas, a maior parte da banda tá ouvindo um som que a gente nem ouvia tanto antes, a gente até ouvia mas… Existe uma linha do punk rock que é mais britânica, que influenciou bastante nas composições – agora em termos mais musicais, não em termos de letra -, que é um lance de coro, todo mundo junto, aquela coisa “ô-ô-ô”, todo mundo cantando junto. Imagina um pub inglês no fim de tarde, com a galera brindando tipo um jogo de futebol ou coisa assim (risos)… Tem umas bandas que a gente ouve que são bem assim. E aí, tirando isso, tem uma música que o Badauí fez pro pai dele que se foi, é uma letra bem autobiográfica, acho que o resto das músicas é o combo que eu te falei do momento, da fase, do tipo de som que a gente sempre gostou de fazer. Acho que se você comparar com os outros discos não tá tão distante também do tipo de punk rock, hardcore que a gente faz, a gente mantém as essências do CPM, e isso é legal, tanto pra nós como para nosso público. Então é o CPM de 2017 sendo o mesmo CPM de sempre com umas influenciazinhas novas, em um momento mais maduro.

 

[RDV] Isso é verdade, vocês conseguiram manter as essências e tá um trabalho bem bacana. Existe alguma faixa preferida nesse álbum?

[Japinha] Olha, pode ser 3? (Risos) É que cada uma é por um motivo. Se fosse pra por em primeiro eu colocaria a que eu fiz, com o cara do Face to Face. Não sei se você reparou, tem uma música em inglês… A base é minha, eu que compus, então é tipo uma filhinha recém nascida (risos). Não só por isso, mas porque eu acho o som legal. O cara fez uma letra, um vocal assim… Literalmente gringo, nos dois sentidos, sabe? O cara manda muito! Gosto muito dessa… A homenagem que o Badauí fez pro pai dele, a “Honrar teu Nome” também é uma coisa que mexe muito comigo, porque eu fiquei muito próximo do pai dele, ele gostava pra caramba de mim e eu dele, a gente brincava um com o outro, então o cara se foi ano passado. Quando o Badauí escreveu eu fiquei emocionado na hora, mostrei pros meus pais, meus pais choraram também e puts… Uma música que mexe muito comigo. Além da guitarra que o Phil (Fargnoli) fez, uma melodia muito boa. E a que tá tocando em rádio, que se chama “Ser Mais Simples”, é uma música que é mais “música”, o Phil quando fez conseguiu transmitir um sentimento absurdo relativo acho que à separação que ele teve com a mulher dele, e passou uma puta mensagem bacana sobre ser mais simples mesmo, e tem uma harmonia e melodia muito bonitas de cantar, de sentir. E ela tá bem diferente de como ele compôs, ela era bem balada e a gente deixou mais punk rock, com a nossa cara, eu gosto muito dela como música, ela é um musicão… E as outras duas pelos motivos que eu te falei.

 

[RDV] Inclusive essa música (Ser Mais Simples) está com um lyric video, né? Eu sei que vocês sempre fazem vídeos, inclusive já ganharam prêmios por eles. Vai ter mais algum clipe pra esse álbum?

[Japinha] Aquele lyric video que cê viu foi uma ideia da gravadora, e a gente abraçou porque é uma ideia boa, justamente pra esquentar, a gente tem essas estratégias de lançamento. Então, antes do álbum sair, a gente já foi pro lyric video pra galera já ir conhecendo, curtindo, pegando o gosto. Lógico que não é o mesmo capricho de um videoclipe, mas já passa o recado ali e tem um certo sentimento. Mas a ideia, ideia mesmo é a gente fazer um videoclipe dessa música, porque é uma música que vai ser trabalhada por uns meses, então a gente tem que fazer um videoclipe. A gente vai fazer, estamos orçando, definindo diretor, roteiro, tudo. A princípio vai ser dela. Provavelmente vai ter um segundo videoclipe, de uma segunda música… A gente é oldschool, daquela escola das bandas dos anos 90 que gosta de fazer clipe, de fazer todo o trabalho bem feitinho, com CD… Vamos até lançar disco de vinil desse disco, vai ser um disco duplo de vinil!

 

[RDV] Nossa, isso é a cara de vocês!

[Japinha] É, então! (risos) A gente é daquela época, a gente chegou a curtir disco de vinil e ao mesmo tempo eu sei que, por exemplo, pra quem é fã, o cara curte CPM pra caramba, o cara quer comprar um CD, e se lançar um disco de vinil o cara vai querer também, porque é um item de colecionador, um negócio pra ele pegar, além do disco, camiseta… E graças a Deus a gente tem essa possibilidade por trabalhar com uma gravadora bacana que nem a Universal, que propicia isso pra gente. Mesmo em tempos de crise de mercado fonográfico, de mercado do rock no Brasil, a gente ainda tem essa possibilidade, a gente eleva em todos os sentidos que puder.

 

[RDV] Falando um pouco do Trever Keith (Face to Face), como foi gravar com ele?

[Japinha] Pra gente foi uma satisfação incrível, já que todos os caras da banda são fãs do Face to Face. Eu brinco com a galera que a gente ouvia Face to Face em fita cassette nos nossos primeiros carros, tinha CD mas a gente gravava fita pra andar ouvindo no carro. Então a gente é fã de moleque do cara, aquele vocal dele é muito poderoso. Quando a gente conseguiu fazer a ponte, o cara topou e começamos o processo de “pô, vamo mandar qual música pra ele?” “ah, manda essa do Japinha”, eu fiquei felizão que era a minha! A gente mandou e o cara gostou pra caramba da minha base, e eu fiquei mais feliz ainda, ele falou “não, eu vou escrever a letra, eu quero fazer”, ele falou que queria escrever a melodia, a letra, e eu falei “puta, meu, que da hora… o cara que é nosso ídolo vai escrever uma letra pra nós, vai compor com a gente”… Só que assim, você perguntou como foi né, foi uma parceria meio digital (risos). Com a tecnologia a gente não foi pra lá nem ele pra cá, foi tudo via email, a gente gravava o arquivo e mandava via Dropbox, que são arquivos pesados de áudio, e eles também gravaram e mandaram por Dropbox pra gente, e a gente mixou, a gente curtiu pra caramba a letra que ele fez, mandamos pra ele mixadinho pra ver se ele aprovava, ele adorou. Ele pôs no Facebook da banda, até pra gente foi uma satisfação o cara colocar no Facebook do Face to Face, a gente leu os comentários dos gringos lá elogiando nosso som, tudo bem que é a voz dele mas é o nosso som… Então até agora tô te contando empolgado, porque eu fiquei contentão com essa parceria! Tudo bem que não é tão conhecido aqui no Brasil pela grande mídia, pelo grande público não é tão famoso, mas pra quem curte hardcore como a gente, punk rock, e conhece mais o som assim é uma honra tremenda, então pra gente tá sendo muito legal!

 

[RDV] Agora vamos falar um pouquinho do Rock in Rio, como foi pra vocês tocar no Palco Mundo?

[Japinha] Ah, então… Isso foi um capítulo bem interessante da nossa história porque… Eu não sei se você já ouviu essa história, mas a gente chegou a ser convidado pra outras edições do Rock in Rio, só que por duas vezes a gente tentou negociar uma condição melhor e não rolou, porque a primeira vez era pra tocar em um palco menor – o segundo palco -, o que é muito legal mas, pô, a gente tinha visto bandas da nossa geração, e até com menos história que a gente tocando no palco principal, e a gente ficou “pô, vamos tocar no palco principal”. E aí numa segunda vez eles tentaram colocar a gente junto com as bandas de metal, mas metal muito pesado! Acho que era o Slayer ou Megadeth, sabe, umas bandas bem pesadas. O público do metal não ia aceitar bem o CPM, que é mais punk rock, e a gente tem histórias assim no Rock in Rio de problemas por público diferente. Aí quando chegou em 2015, o pessoal do Rock in Rio veio com essa proposta, e finalmente colocaram a gente em um dia que era bem rock assim sem ser extremo, que era junto com o System of a Down e o Queens of the Stone Age e junto com aquela banda do Johnny Depp – o Hollywood Vampires –, junto com o guitarrista do Aerosmith, o Alice Cooper e tal. A gente falou “meu, um dia de responsa também, mas um dia que acho que o CPM consegue segurar a bronca, pelo tempo que a gente tem, pela a quantidade de músicas que a gente já tem na rádio, a história toda da banda, o fã clube vai querer ir no show e eles vão em peso”, e aí não deu outra. A gente chegou lá, um pouco nervosos, claro, porque a gente ia abrir a noite, mas a gente entrou no palco e vimos umas faixas ali, ouvimos uns gritos altos tipo “uh CPM” e tal, a gente ficou mais tranquilo. A gente subiu, tocou, e foi animal, a galera cantou quase todas as músicas inteiras. Lógico, deve ter tido fãs de outras bandas que foram lá pra tomar cerveja, mas ninguém vaiou. Então a resposta foi muito boa.  A organizadora do Rock in Rio chegou pra gente “meu, aqui no Rock in Rio é assim, ou você sai consagrado ou sai cabisbaixo, vocês saíram consagrados”, então até por isso a gente resolveu fazer um DVD porque o show foi muito bom, e foi uma experiência incrível, cara. Não é à toa que o Rock in Rio é considerado um dos maiores, se não o maior festival do mundo. Meu, só de camarim, de estrutura ali… Pô, a gente tinha 3 camarins pra gente, um maior que o outro, tinha piscina no camarim, tinha massagista, tinha coisas assim de outro mundo. E pô, acabei trocando ideia com o guitarrista do Aerosmith, que tocou lá com o Johnny Depp, troquei ideia com o Alice Cooper… É uma coisa assim muito louca e legal.

 

[RDV] Eu imagino… É uma outra conquista pra vocês, né?

[Japinha] Pô, foi demais! Foi tipo uma consolidação de trabalho, porque até esses outros convites que a gente teve foram males que vieram para o bem, a gente não ter conseguido tocar antes por causa desses detalhes que eu te falei, foi até bom porque quando a gente chegou lá foi com muito mais força, com a banda com um nome mais forte, um público mais cativo, com mais respeito das bandas antigas, com um público. Então a gente chegou com muito mais força em 2015, a gente selou, consolidou todo esse trabalho que a gente vem fazendo há 15 anos.

 

[RDV] Voltando a um assunto em que você chegou a tocar, vocês participaram de uma cena no rock brasileiro em meados dos anos 2000 que foi muito forte, junto com várias outras bandas de rock em um mainstream. Cada uma seguiu o seu caminho, e hoje mesmo com o rock não sendo tão evidenciado no mainstream, o CPM lançou material novo e continua na ativa. Como é vivenciar esses dois momentos?

[Japinha] Eu acho que você tem razão quando fala que a gente participou daquela cena underground, de garagem, a essência do CPM é essa, e no mainstream também, quando a gente foi lançado com a Pitty, Detonautas, Charlie Brown, Raimundos, foi uma cena que a gente participou ativamente, até porque naquela época a cena MTV era muito forte, promovia muitas bandas de rock. E agora analisando todo esse cenário, os dois cenários e o momento que a gente vive agora, eu acho que a gente continua com a mesma essência, aquela banda de garagem que toca punk rock cru e de raiz, batera, baixo, guitarra distorcida, velocidade, um pouco de peso. Mas ao mesmo tempo a gente passou a ter desde 2001 e 2002 uma estrutura bem mais legal de trabalhar, instrumentos melhores, a gente tem apoio de uma gravadora, a gente tem uma base de fãs bem legal pelo Brasil inteiro, a gente conegue tocar em vários estados, cidades, consegue viver de música, de rock no Brasil, o que é raro. Então acho que uma das virtudes do CPM é, mesmo com tudo isso que a gente tem, o “privilégio” de ter conseguido chegar onde chegou, a gente não quis mudar o som que a gente faz. E isso acho que é o “segredo” de muitas bandas. Se pegar o Ramones, do primeiro disco ao último era aquilo ali, o Iron Maiden continua fazendo aquele metal de 4 ou 5 minutos, com músicas super, pega um Metallica arrebentando no Lollapalooza, tocando aquele som. Então acho que isso é virtude das bandas que conseguem se manter fazendo o mesmo tipo de som, seja na garagem, seja no mainstream, seja com pouco equipamento ou com muito equipamento bom. Então acho que o CPM tem essa característica que faz valer, faz justificar o fato da gente subir no Rock in Rio, da gente estar indo pro sétimo disco de inéditas, a gente tá numa Universal Music, a gente ganhou um Grammy Latino. Acho que essa essência acaba ganhando uma força, a força da verdade, da identidade da banda. Se você fica mudando de acordo com o ano, com a tendência, com o que o empresário falou, com o que o produtor falou, você acaba perdendo a força. Você pode até fazer um trabalhinho bonitinho ali naquele ano ou outro, mas quem curte o som mesmo, quem te acompanha mesmo vai perceber que você vai perdendo a identidade. Então acho que é uma virtude do CPM ter conseguido se manter fiel às raízes do punk rock, seja no sétimo, no primeiro, no quinto disco, no palco do Rock in Rio ou no palco do Hangar (110 – São Paulo) a gente toca as mesmas músicas, com a mesma velocidade, o mesmo peso, e acho que é isso que faz a gente se manter como banda de rock no país.

 

[RDV] Você falou que vocês estão ouvindo bastante outras bandas, quais bandas são essas que têm influenciado vocês ou que não tem saído da playlist de vocês?

[Japinha] Olha, tem uma banda de Boston que se chama Dropkick Murphys, que é bem legal, o pessoal se baseia muito assim. Tem bandas de punk mais antigo, várias músicas a gente falou “ah, vamos fazer uma guitarra tipo Ramones”, eu mesmo já fiz uma bateria meio Ramones. Também tem um estilo de punk, se chama street punk, que é uma coisa que o pessoal do CPM tem ouvido bastante, justamente o que eu te falei, imagina um pub inglês, final de tarde, pessoal brindando uma cerveja… Tem uma que a gente ouve bastante, se chama Cock Sparrer, tem uma outra que chama Cockney Rejects. O próprio The Exploited que é uma banda antigona, até Garotos Podres que tem um pouco dessa pegada aqui no Brasil. A gente fica ouvindo muitos anos as mesmas bandas, a gente ouve muito até hoje Bad Religion, Pennywise, NOFX, Face to Face. Face to Face influenciou pra caramba a gente. Mas daí você quer ouvir bandas novas, ou bandas mais antigas que tenham a raiz desse tipo de som, e tudo isso acaba influenciando. O que os caras que a gente ouve ouviram, então a gente vai atrás desses caras pra saber de onde vem. Esse disco acabou buscando um pouco desse tipo de som mais antigo, mais raiz, britânico, sabe?

 

[RDV] Japinha, você quer deixar algum recado para os fãs em nome do CPM?

[Japinha] Ah, claro! É um prazer, uma honra deixar um abraço aí. Quem puder ouvir o CD novo “Suor e Sacrifício”, esse disco tem bem a ver com o que a gente viveu e vive, nada é jogo ganho, a gente tá sempre ralando pra se manter como uma banda forte no cenário. E mandar um agradecimento especial pra todo mundo que acompanha o som do CPM, o que prestigia a gente ouvindo o CD, em plataforma digital ou indo ao show – o que é mais legal -, ou até falando bem da banda, ou mandando um recado pra gente nas mídias… Pra toda essa galera aí um grande abraço especial, obrigado por tudo, e a gente se vê na estrada aí!

Barbara Lopes

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