Lançado no dia 29/01, o novo álbum dos gigantes do prog/metal atraiu inúmeras expectativas por conta do conceito apresentado meses antes de seu lançamento. Os fãs ficaram muito animados, principalmente após o lançamento da primeira música. “The gift of Music” foi uma música bem produzida e trazia referencias a álbuns antigos que durante anos não foram exploradas pela banda. Os que acompanham a banda desde o primeiro álbum, detectaram, rapidamente, uma semelhança sonora com os antigos “Six Degrees of Inner Turbulence” e “Scenes from a Memory”.
E claro, para vários fãs não foi fácil virar o ano por conta da curiosidade. Eu mesmo, particularmente, tenho “Six Degrees of Inner Turbulence” como minha música favorita da banda. Perdi as contas da quantidade de vezes que ouvi esta música no repeat de 42 minutos (aquela versão com a orquestra, sabe?). Fabulosa… Pois bem.
Não era nem 3 da manhã do dia 29/01 e eu já tinha ouvido o álbum inteiro da banda. (eis um dos benefícios de quem assina aplicativos que reproduzem música via streaming). Aconteceu algo que eu não soube lidar. Pela primeira vez durante muito tempo, eu não tinha uma visão formada de um álbum logo após ouvi-lo. Então eu ouvi outra vez. Mais uma. Mais outra. E outra… Deu muito trabalho por conta do conceito como um todo e por isso resolvi dividir minha resenha em partes. Há coisas muito boas no álbum, mas há coisas não tão boas também e que precisam ser citadas. Vamos lá?
Tempo das músicas;
Em 34 músicas, nenhuma ultrapassa a marca dos 7 minutos. A banda que já compôs álbuns onde apenas uma música não ficava abaixo dos 10 minutos, realmente surpreendeu e seguiu o título do álbum que tem como tradução: “surpreendente”. O tempo menor das músicas, fez com que as passagens instrumentais e as “virtuoses” tivessem um espaço muito mais breve. O ponto positivo é que não senti nenhuma falta das músicas gigantes, o que mostra que um Dream Theater mais objetivo é tão bom de ouvir quanto a fase mais épica da banda.
Conceito do álbum;
A temática “futurista-retrô”, se é que posso chamar assim, me lembrou um pouco as extravagâncias do Luca Turilli com o Rhapsody of Fire (Ascending to Infintity…?) Não achei ruim, muito pelo contrário, super apoio trabalhos diferentes, mas deixar o James Labrie fazer todas as vozes embaralhou um pouquinho na hora de compreender o álbum como um todo. Aprecio muito a voz do Labrie, entretanto ele não consegue fazer muitas variações e as próprias músicas, que mantém durante boa parte do tempo a mesma atmosfera, dificultam bastante a diferenciação entre os personagens da história. O Dream Theater não é uma banda pobre… Eles poderiam ter trazido outros vocalistas para participarem do álbum… Perderam a chance de fazer um trabalho incrível como na música “The Spirit carries on” do álbum “Scenes from a memory”.
Elementos extras de edição;
Durante as músicas você pode encontrar vozes, gritos, choro, pelo menos tem uma hora que parece rolar uma “treta”. Mas essa é uma das minhas maiores críticas negativas ao álbum. Ou faltou uma boa masterização nestes sons ou sei lá o que ocorreu… Não estamos falando de uma banda que utiliza sons MIDI para improvisar vozes. Há efeitos feios de vozes que você poderia fazer em um teclado qualquer. Confesso que isso me decepcionou bastante porque não estamos falando de técnica musical, mas sim de um roteiro de uma história qual precisamos acreditar para “comprar” o conceito, algo que precisa ser verossímil. Cada vez que tinha uma voz dessas, eu lembrava que era uma ficção e isso me tirava de uma atmosfera super bacana que musicalmente tinham conquistado.
Repetecos e criatividade de John Petrucci;
Sou um apaixonado pelo trabalho do John Petrucci, mas desde a saída do Portnoy o Dream Theater se repete de maneira incômoda. Isso foi legal no primeiro álbum e “chatinho” nos outros dois, incluído este. Neste álbum, temos referências claras o “Six Degrees…” e ao “Scenes from a Memory”. Músicas como “Overture”, “Solitary Shell”, “About to crash”, “goodnight kiss”, “Loosing time”, “The Spirit carries on”, “Dance of Eternity”, “Strange Dejavu”, “Fatal Tragedy”, “Finally free”, entre outras, apareceram constantemente. É um problema utilizar trabalhos antigos como referência? Não. Mas corre-se o risco de ser algo não tão bom quanto o trabalho anterior. O que me intriga é que desde a saída do batera o Dream Theater entrou nessa de repetir, coisa que a banda fez muito discretamente nos seus trabalhos anteriores. Isso nos leva a compreender que Portnoy era mais que um baterista, era a força criativa do Dream theater que provocava a criatividade nos outros, principalmente no Petrucci que tem repetido a estrutura de alguns solos e riffs nestes últimos álbuns.
Rudess e Labrie;
Apesar dos pesares, a voz de Labrie é um dos destaques do álbum. Afinal, sem as eternas passagens de som ele não pode mais fazer um tour pela europa enquanto Petrucci fica solando sua guitarra ao infinito e além. Esse novo álbum deixa Labrie em mais evidência e mais exposto que de costume. Se deixarmos o conceito de lado e ouvir cada música individualmente, vamos ver que ele está provavelmente em seu melhor nível nestes últimos dez anos. Claro que as músicas lentas e melódicas sempre auxiliam sua voz que tem um pegada bem mais leve e doce. Em algumas músicas como “The X Aspect” entre outras, há vários refrões muito bem cantados. Aliás, é um ponto forte do álbum e que deve funcionar muito bem ao vivo, uma vez que não vai faltar coro para os fãs cantarem juntos. A última vez que eu tinha visto o Labrie tão bem em um álbum foi em um dos seus projetos paralelos, “Frameshift”, onde sua voz encaixou muito bem.
Sobre Rudess… Este foi a força criativa bruta do álbum. Sensacional como conseguiu apresentar inúmeros riffs e construções inéditas. Aliás, este é possivelmente o álbum mais leve da banda, com muitas passagens de teclado e com certeza o mais melódico. Vale a pena citar músicas como “Lord Nafaryus” (onde podemos achar até tango no meio da música), ou até mesmo “Ravenskill” que é uma das melhores músicas do álbum. Se você gosta de teclado e de climas e ambientações diferentes, vai concordar comigo: palmas para o careca barbudo.
Mangini e Myung;
São dois cyborgs programados para tocar na velocidade que você preferir. Qualquer dúvida, vide o manual.
Grandes acertos;
A vantagem de um álbum com tantas músicas é que há muito o que se aproveitar individualmente. Separemos algumas que realmente apresentaram novidades como Dream Theater e me encantaram como ouvinte:
02 Dystopian Overture (nem tanta novidade assim)
06 Lord Nafaryus.
10 Three days
14 Ravenskill (uma das melhores do álbum)
18 The X Aspect
19 A new beginning
25 The Path That Divides
34 Astonishing (apesar dos repetecos e de eu esperar mais de uma música que leva o nome do álbum).
Claro que há o que aproveitar durante o álbum. Provavelmente este vai ser um álbum memorável para novos fãs que ainda não conheceram o Dream Theater de antes. Talvez eu gostasse mais deste álbum se tivesse conhecido antes dos trabalhos anteriores, mas a verdade é que precisamos destacar que a banda que trabalhava com álbuns e estruturas diferenciadas, que sempre se inovava, não está conseguindo fazer isso nestes últimos três álbuns, por mais que tentem. Talvez os fãs precisem aceitar isso e entender que este será o Dream Theater daqui para frente e que isso pode não ser tão ruim assim, porque não deixa de ser uma boa banda.
Dou nota 7,0 para este álbum que apesar de tudo apresentou uma beleza incontestável em suas melodias e foi uma ambiciosa tentativa de sair da caixinha.
E você? O que achou do álbum? Conta pra gente.