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Entrevista exclusiva com Erodelia

O Rock de Verdade entrevistou a banda Erodelia, que recentemente fez um show matador junto com o Matanza em Santos (SP).

Com cinco anos de estrada, depois uma apresentação calorosa – a primeira (e em casa!) após o Rock in Rio –, a banda estava bem à vontade e levou um papo sincero e divertido com a equipe, comentando sobre a cena caiçara, o cenário do rock n’ roll atual e, como não poderia faltar, o que tem por vir acerca da banda.

 

Rock de Verdade: Qual é a sensação de abrir o show do Matanza?

Erodelia: [Caio] É a nossa segunda vez, na verdade, já. A gente sente que o público do Matanza, Cachorro Grande, bandas assim que, não vou mentir, no começo foi um ponto de inspiração para a gente, a gente vê que o público é muito receptivo à Erodelia. Então quando surgem essas oportunidades, a gente sabe que o público vai gostar. Não vou dizer que é um tiro certo, mas já é mais uma galera que valoriza o rock em português, então a gente vê que já estamos em casa, uma cumplicidade com o público. É sempre bacana, e sempre quando chamam a gente, a gente toca. É da hora, você viu como foi a reação da galera, não tem muito o que falar depois de um show desse, a galera é receptiva às músicas da banda, a gente mandou os covers porque acha que também tem que agradar o todo, fazer a galera pegar fogo antes do Matanza, acho que teve vários problemas antes do show, mas a gente conseguiu fazer 100%.

[Erick] Esclarecendo umas paradas aí: antes do show rolou uma putaria do caralho na porra da organização aqui. Sr. Fabio, sou eu que estou falando, se o senhor perguntar eu vou falar, olhar no seu olho. A palhaçada que foi feita aqui nessa porra, não era pra ter tido show, não era pra ter tido merda nenhuma, a gente se fodeu, 23h e a gente correndo atrás de bagulho que era pra porra da produção ter procurado. Não sou eu, eu não sou produtor, eu sou o baixista. Então, aprenda a ter uma porra de um pouco de profissionalismo. Quer trabalhar? Trabalha direito. Não quer trabalhar? Não faz porra nenhuma. Se é pra ficar fazendo merda, queimando a cidade, parecendo que aqui só tem vagabundo, só tem burro, então não faz porra nenhuma. Em vez de vir com esse papo do caralho que tá ajudando, que tá fazendo pelo pessoal daqui, tu tá é queimando todo mundo e cagando com a porra toda.

[Caio] Exige 100% de profissionalismo da banda. E a banda tem que estar no horário certo, a banda tem que fazer a coisa certa, a banda tem que passar o som certo, a banda tem que divulgar, é obrigada a divulgar, tem que mudar a capa do Facebook porque vai ajudar na divulgação, e não sei o que, não sei o que lá. A banda Erodelia, neste show em específico, a gente aceitou a oportunidade, a gente acabou de voltar do Rock in Rio, não tinha feito show em Santos, a gente achou que não existiria oportunidade melhor de voltar para a cidade tocando com o Matanza. Só que a gente abre mão às vezes do cachê porque a gente espera que a organização vai dar conforto, vai dar qualidade de som, vai dar algumas regalias para a banda. Quando na verdade você percebe que o cara deixa tudo para trás e ele não quer mexer no dele. A banda, por causa dessa galera, pra não deixar a galera na mão, quando veio o produtor do Matanza falar pra mim “meu, vocês precisam tocar, porque no flyer tá o nome de vocês, tem gente esperando vocês, vocês têm que tocar”, então a gente faz por amor por essa galera.

[Erick] Esse show foi puramente pro público. A gente não ganhou um centavo, muito pelo contrário, a gente só se fodeu nessa porra, foi tratado com um puta desrespeito do caralho, mas a gente fez porque tinha gente aqui esperando pela gente, tinha gente querendo, tinha gente curtindo, gente que vai no show, gente que compra coisa da gente. A gente fez isso pelas pessoas que vieram pela gente, porque se a gente fosse fazer pela porra da cena que criam nessa merda aqui, a gente tava fodido, a gente não tinha nada, a gente não tinha banda. Então, vamos ter um pouco de consciência antes de criar evento sem organização, antes de querer chamar banda sem ter condição de pagar os caras, porque o cara gasta com porra de ensaio, gasta com porra de instrumento, gasta com porra de transporte. Então, faz o seguinte: põe um pouco de juízo na porra da cabeça antes de sair fazendo merda por aí.

 

RDV: Como foi representar a Baixada Santista no Rock in Rio?

Erodelia: [Caio] Foi legal pra caralho, e ao mesmo tempo a gente sente que a galera de fora deu mais valor por a gente ser uma banda de Santos lá, do que propriamente Santos. Por exemplo, Erodelia e Bula, acho que foi a primeira vez na história que teve duas bandas de Santos, da Baixada Santista, no Rock in Rio. Sabe quantos shows a Erodelia e a Bula fizeram juntas em Santos depois do Rock in Rio? Nenhum. Então é um descaso e uma burrice, o show já está pronto para o produtor, ele não precisa fazer mais nada! “Vamos fazer um pós Rock in Rio em Santos, com as duas bandas…” O cara não faz. A gente já voltou do Rock in Rio tocando em casas que nunca tinham chamado a gente. Em Santos mesmo estamos esperando a coisa fervilhar. A gente sabe que tem uma galera que já está curtindo, sabe que tem uma galera que está ficando fiel. Mudou muita coisa para a gente sim, quando a gente anda na rua, tem galera que reconhece, que vem falar com a gente. Mas o que falta é uma estrutura para uma banda que foi fazer junto com outras. Não adianta a Erodelia ficar fazendo um monte de eventos que a gente não vai fazer barulho. As bandas aqui de Santos precisam se organizar para a gente fazer movimento junto, e não excluir, e muitas bandas excluem. Muitas bandas, enquanto está nivelado, todo mundo é amigo, todo mundo é brother, todo mundo é parceiro; você dá um passo para a frente ou para trás, acabou, não tem mais nada. Eu posso dar um exemplo da Shadowside aqui de Santos: a Shadowside quanto mais famosa ficou, mais hater começou a aparecer, o que é tipo ridículo, era a hora da galera abraçar a ideia. Você vai dando passo para cima, e a galera cada vez mais te odeia. Tem nego que odeia a Erodelia que nunca escutou, não sabe o nome, nunca foi no show. Então a gente acha que é isso é um pouco culpa do movimento rock n’ roll, mas a Erodelia mostrou hoje que é contra tudo e contra todos, a gente faz o que a gente faz por amor mesmo. Uma vez eu discuti “por que você acredita em Deus, se não age na tua vida?” eu acredito em Deus porque crença e amor não se explicam. A Erodelia é a mesma coisa. Eu estou há cinco anos na Erodelia, “por que você não largou a Erodelia? Ela não te dá dinheiro”, porque crença e amor não se explicam. É coisa de doente mental, mas a gente faz.

 

RDV: Como foi gravar o clipe “Essa Semana Tirei pra Te Odiar” com o Zé do Caixão?

Erodelia: [Erick] Ah, foi foda. A gente fez uma puta organização, tanto que a gente ficou orçado em R$150.000, mas a gente conseguiu umas parcerias bem legais, conseguimos um resort que tinha aeroporto, aviões, helicóptero, taco de golfe, foi um bagulho muito bem feito,  muito bem organizado. A gente demorou mais ou menos um ano para tirar do papel e transformar no resultado. A gente começou em novembro de 2013, em novembro de 2014 o clipe estava sendo lançado. E foi uma puta oportunidade trabalhar com um cara que tem um puta conceito em matéria do cinema nacional, a gente sempre pensou em fazer um clipe com uma história legal, com um roteiro legal, com uma gravação legal. A gente não queria lançar um webclipe qualquer, é perda de tempo, a gente queria lançar um negócio de verdade.

[Caio] Só para completar um pouco o que o Erick está falando, você pode não gostar da gente, mas você nunca vai receber um material mais ou menos, a gente sempre preza isso. Pode não gostar, mas o material a gente tem que se esforçar ao máximo. Então, como o CD tem todo um processo, vem com um pôster, a gente fez todo um CD elaborado, com tema de cinema, temático, o clipe não poderia ser abaixo da expectativa do CD. Então o Zé do Caixão veio trazer esse “glamour” todo pra gente fechar o conjunto de 2014 do CD com o clipe, que a gente vem trabalhando até agora, e com certeza ano que vem a gente vai estar lançando material novo.

RDV: E como é o processo de criação das músicas?

Erodelia: [Caio] A gente é meio louco. A gente não tem processo nenhum, a gente vai lançando no ensaio. A própria “Essa Semana Eu Tirei pra te Odiar“: eu estava tomando banho, eu cheguei na cozinha e falei pra minha mãe assim “aprendi, sei que não vou mais errar, essa semana eu tirei pra te odiar”, ela: “que porra é essa, velho?”, eu falei “cara, isso é um refrão, eu achei muito bom. Eu vou jogar pros caras da banda e ver o que vira”. Então a gente é meio desregrado em termos de composição, mas pelo menos a gente não força a barra. Quando a música aparece, a música aparece. Quando ela se apresenta na nossa frente, a gente faz; quando não se apresenta, a gente não faz. A gente não fica tipo “vou escrever agora”. É uma coisa mais que a gente deixa fluir, vai saindo. As vezes os caras estão fazendo uma jamzinha no ensaio e boom, temos uma música nova. Então a gente não tem processo nenhum praticamente. Eu acho que quanto menos você pensa em termos de música, mais vai sair o seu sentimento, mais o que você tá a fim mesmo de fazer. Eu acho que o que deve ser pensado na música é a letra, o tema. Por exemplo, a Erodelia gosta de fazer coisas temáticas, então o tema da música a gente sempre pensa, porque as vezes surge uma música legal com um tema bacana, daí a gente pega como material do ano e transforma aquela música em todo o material do ano. Então a gente vai fazer o CD com a temática parecida, que puxa aquela música. Uma coisa que eu aprendi é que a arte tem que deixar de ser só arte e começar a pensar na tua banda como uma empresa. A Nestlé não muda a embalagem do nescau se ela não mudar todo o conceito dela de comercial, de venda. Eu acho que a banda é mais ou menos isso, e dá pra fazer isso sem underground, não é uma coisa impossível pensar em lançamento, é tudo uma temática, a gente tem que pensar no tema da música.

 

RDV: Tem música nova saindo? Vocês estão trabalhando para isso?

Erodelia: [Caio] Sim, hoje a gente mandou três músicas novas já que vão ser do próximo material, que provavelmente a gente tem até a esperança junto com um pouco de uma certeza de que 2016 vai sair para um selo, a gente tem essa fé. E hoje a gente mandou “O que Eu Sou“, “Sempre em Frente“, e “Ditado Popular“, que provavelmente vai sair no novo CD da gente. E a gente brincou, o nome não vai ser “Estocando Vento”. A gente tá se programando para o comecinho de 2016: estrada, até para juntar uma grana e tal. Mas eu acho que um pouquinho antes do meio do ano a gente já tá entrando pra gravar um novo álbum.

 

RDV: Depois de ganhar várias premiações aqui na Baixada no cenário de rock, até onde vocês querem chegar?

Erodelia: [Caio] O que a gente sente é que o problema agora é você cair na estrada, é difundir o som. Em termos de premiações, a premiação brasileira tá meio fraca, só me vem à cabeça a Multishow, que ainda premia bandas. Mas agora a gente quer disseminar mesmo, eu acho que o Rock in Rio deu a possibilidade pra gente virar uma coisa nacional, abriu esse caminho pra gente. A gente sabe que o nome da Erodelia tá circulando na boca de produtor, na boca de um monte de gente, que era essa galera que a gente queria atingir. Muita gente fala “ah, seja independente”, mas a coisa é diferente quando se tem gravadora, não adianta disputar com uma gravadora. A gente acha que tem um rock n’ roll que é muito digno, muito honesto e muito acessível, a gente nunca teve uma porta fechada em TV, nunca teve uma porta fechada em rádio pelo tipo de som que a gente faz. A Erodelia é uma banda que não foi feita para críticos, foi feita para público, então a gente vê que a gente é uma banda de massa mesmo, a massa gosta. Os refrões da gente são chicletes e o próximo passo é esse, tentar se tornar uma banda nacional e quem sabe conseguir de pouquinho em pouquinho atingir o exterior, países como Canadá, Portugal. A própria música “Fora da Lei” tocou no Canadá, e a “Essa Semana Eu Tirei pra Te Odiar” ficou um mês no top 10 na rádio Utopia, de Lisboa. A gente não toca em lugar nenhum aqui no Brasil, e lá a gente é top 10. Acho que o que falta mesmo é reconhecimento br.

 

RDV: Por que cantar em português um estilo de rock internacional?

Erodelia: [Caio] Porque a gente faz um rock em português internacional. Quando a gente montou a Erodelia, a gente montou em português pela raiva e falta de referência. Por exemplo, Paralamas do Sucesso: Paralamas do Sucesso é rock n’ roll no Brasil, mas se os caras forem tocar em qualquer festival no mundo, eles não parecem com nada que é produzido no mundo. Ele é rock n’ roll nacional, não é rock n’ roll mundial. AC/DC e Paralamas combinam? Então a gente tinha a ideia de fazer uma banda em português mas que soasse como o rock n’ roll que é produzido no mundo inteiro; que você pudesse estar escutando um Kiss, na tua setlist entrasse um Erodelia, acabasse o Erodelia e entrasse um AC/DC e a coisa continuasse nivelada, não sentisse destoar como é o que acontece no rock nacional. Porque aqui a gente tem, por exemplo, Legião Urbana, respeito todas, acho todas de excelente qualidade, mas não me representa como roqueiro. Então eu acho que foi pela falta de referência mesmo que a gente criou essa raiva, e a gente viu que tinha poucas, na nossa época que a gente montou a banda era Cachorro Grande e Matanza, só. O resto da galera que estava fazendo em português de mídia era uma levada mais leve, para “não assustar a vovozinha no Faustão”.

[Erick] Até nas apresentações e no próprio marketing, você não vê os caras usando uma camisa do Capital Inicial, uma camisa do Jota Quest, mas você vê as bandas de outros países, todas têm camisa, todas têm caneta, chinelo.

[Caio] Uma coisa que a gente acha engraçado também é que, por exemplo, o marketing das bandas brasileiras é horrível. Me fala cinco nomes dos caras do Jota Quest? Rogério FlausinoRogério FlausinoRogério FlausinoRogério FlausinoRogério Flausino. Me fala o nome de cinco caras do Capital Inicial? DinhoDinhoDinhoDinhoDinho. O marketing é horrível. A gente quer ser uma banda brasileira, sim! “Ah, igual o Guns N’ Roses?” Por que não? Eu quero neguinho com camiseta minha, um cara com camiseta do Erick, dá pra se identificar com os caras. As bandas brasileiras não divulgam as personalidades dos integrantes. Por exemplo, eu falo pra caralho, só faço merda, o Erick só tomando cerveja, falando os bordões dele, o Heitor mais quieto, o Yan metódico para caralho, o Danilo, Danilove, que fica tirando sarro na Internet, a gente tenta mostrar isso pro público, a gente quer que ele tenha seus fãs, e no conjunto tenha os fãs da banda, mas que gostem de cada um individual, saibam o nome e tudo mais, então a gente aposta nisso.

 

RDV: Vocês têm algum recado para os fãs?

Erodelia: [Caio] Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Amem a gente, a gente está disposto a entregar tudo. Hoje foi um dia que se a gente quisesse virar as costas, ficar aqui no camarim e não fazer o show, a gente tinha todos os motivos possíveis para fazer isso. E a gente se apegou em um único motivo que eu acho que move todo mundo que tá aqui na banda, que é amor pelo que faz, é querer viver do que faz. Então continuem seguindo a gente, continuem dando força para a gente e mesmo que a gente tenha que andar sozinho, a gente vai, e todo mundo vai crescer junto, e um dia vocês vão poder curtir um show gigante da Erodelia, quem sabe.

[Erick] E se for mulher, mostra os peitos no meio do show porque faltou.

Barbara Lopes

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