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Faufest: Festival independente com moral de gigante

Dia 15/03, a capital do rock presenciou um dos maiores eventos de banda independente da cidade. Brasília foi palco do FauFest, festival organizado por alunos do curso de arquitetura da UnB (Universidade de Brasília). O festival consistiu em três partes: a primeira, bandas postavam vídeos de uma música na página no Facebook do evento, e o público curtia as publicações que mais gostavam. As três mais curtidas garantiam um lugar no evento. Os jurados escolheram mais três. Seis bandas, de aproximadamente 40 fizeram o festival. Austrinus, No Doctor Blues Band, Willcome,  The EgoRaptors, Molécula Tônica e Virtuvia.

A segunda parte foi o festival em si, com cada banda tocando 20 minutos. As duas preferidas pelos jurados iriam para uma final, e quem ganhasse, tocaria numa tradicional festa de Brasília, a Festa de Arquitetura da UnB. Todas as bandas se entregaram totalmente à batalha. Algumas das que não foram selecionadas até tentaram fazer um drama para tentar conseguir uma vaga, mas a tentativa foi falha (e justamente).

No dia do evento, o Rock de Verdade foi conferir o que ia acontecer e entrevistou cada banda. O resultado você confere agora:

A primeira banda a subir no palco foi a Willcome. Ouvindo em casa, eu gostei do som, mas não era uma banda que eu pagaria para ver ao vivo. Estava totalmente errado. Me surpreenderam demais. A casa ainda estava vazia, foi o show que abriu o evento, e quem não viu perdeu. Um som firme, forte e marcante. Destaco na apresentação o guitarrista Matheus Machado e o baterista Tobias Warkentin, que fizeram total diferença e atraíram ainda mais quem estava lá. A música ”Cores, ou não” foi o ponto alto do show, e foi a canção que também os colocaram lá.

A banda teve a entrada contestada no festival, com o argumento de que ”votos falsos aconteceram”. Perguntei para banda se tiveram receio de serem cortadas no evento por causa das acusações, e responderam que estavam tranquilos, e que as pessoas que não souberam perder não os abalaram e nem tiraram a confiança do grupo. O resto da entrevista segue abaixo:

P: O estilo da banda de vocês é mais pesado do que o das outras presentes. Acham que isso vai atrapalhar ?

R: O nosso estilo não incomoda, escolhemos isso pra gente e não importa o que as outras bandas vão tocar, só fizemos nosso melhor e queremos passar a nossa mensagem.

P: E a preparação pra esse evento, como ocorreu ?

R: Estamos planejando esse show desde o começo, e demos nosso melhor mesmo, nos divertimos e é isso ai.

P: A música que vocês gravaram e colocaram vocês aqui, foi gravada especialmente pro Fau Fest, ou já estava pronta ?

R: A gente tá pra gravar o EP, e  ”Cores, ou não” já tinha até data marcada, mas como surgiu a oportunidade do Fau, gravamos uma demo no meu quarto mesmo, em cima da hora e quem cantou nem foi o vocalista, e sim eu (guitarrista). Galera até reclamou da voz lá no vídeo, mas aqui a gente pode mostrar quem é o cara que canta de verdade.

P: Esperançosos para passarem pra final ? E quais os planos da banda pro futuro ?

R: As outras bandas são boas, conseguiram chegar até aqui, mas estamos felizes por ter tocado, ter feito o que gostamos, e só de ter tocado já to feliz. Vamos gravar o nosso EP agora e temos apenas um show marcado, pra não atrapalhar. Depois de lançado, ai vamos com tudo.

P: E se passarem, o que podemos esperar ?

R: É… a gente não sabia que a final era hoje, então vamos ter que repetir uma música, ou ”Cores, ou não”, que marca essa nova fase da banda, ou ”Sem Asas”, que é do começo da banda.

A Willcome não precisou repetir uma música, visto que não se classificaram para a final. Não ganharam a competição, mas foi uma bela apresentação. Valeu Willcome!

A segunda banda foi a No Doctor Blues Band, uma banda de blues (jura?). O Blues é pouco valorizado no Brasil, e uma banda independente tocar o estilo, é algo que merece respeito.

Na apresentação, os quatro integrantes estavam de macacão, e eu não faço ideia do porquê, mas foi interessante. O show foi bom, não senti muita confiança na banda, mas foi interessante. Confira a entrevista:

P: Sendo a única banda de blues, teve uma pressão antes ?

R: A gente tava muito confiante, e por mais que tivesse uma pressão a mais, a gente tava ciente de que podia fazer um bom trabalho. O blues é a linguagem da sensibilidade, a harmonia, o feeling, então acertar tudo não era o objetivo principal. Falaram uma palavra no ensaio, gratidão, e isso mexeu comigo. Sou grato por tocar blues e ainda mais por ser com eles.

P: Como é tocar blues no Brasil ?

R: A gente tem uma influência muito grande da Tropicália, no movimento antropofágico também de Oswald de Andrade, e buscamos usar no blues uma mistura disso tudo.

P: Estão confiantes de passar para a final ? Como vocês se sentem agora ?

R: Fomos o mais sincero possível no som. A música tem aquele feeling… e a gente usa macacão né velho (gargalhadas sem fim).

P: Ainda bem que comentaram, onde veio essa ideia maluca de tocarem de macacão ?

R: Esse é nosso terceiro show, e a ideia do macacão pro show foi justamente em passar uma identidade pra banda. A ideia foi do nosso amigo Gustavo, que não está presente fisicamente, mas tá aqui em espírito.

P: Se forem pra final, vamos ouvir o que ?

R: Se passarmos pra final, vamos tocar… deixa pra lá, surpresa.

A No Doctor também não foi para a final, mas seu som irreverente e diferente deu um toque especial ao evento.

Agora… Eita. Quando eu cheguei no evento, tentei bancar a pose de jornalista sério e cético, mas quando essa banda subiu ao palco, eu não aguentei e fui pro meio da galera. Austrinus foi a terceira banda.

O som dos caras é excelente. O instrumental da banda é sensacional, e a vocalista… que vocalista!  Brincadeiras à parte, a Austrinus fez um mega show. Quando eu ouvi em casa, fiquei maluco, achei a melhor banda, e tecnicamente, foi. Na última música, ”Dance Excuse”, o público cantava, pulava e gritava de um jeito insano, mas a parte que destaco no show foi a execução de Motoboy”, single lançado um dia antes do evento. A entrevista segue aqui:

P: Por curiosidade, vocês tocam juntos a quanto tempo ? A experiência e maturidade que mostram no palco faz parecer que estão juntos a mais ou menos uns 10 anos.

R: Engraçado isso, pois a banda tem mais ou menos uns 8 meses de existência. O que faz a química da banda é a amizade, somos muito próximos, e isso faz a diferença, é isso que dá a ”liga” na banda.

P: Ficaram surpresos por passar pra essa fase do festival, ou foi aquela sensação de ”ah, eu já sabia” ?

R: A gente correu muito atrás, encheu o saco de todo mundo pra votarem na gente, foi uma correria total, então não foi muita surpresa não.

P: Até agora, foram a banda mais profissional do evento, a responsabilidade de vocês era a maior. Como foi lidar com isso ?

R: Nervosismo, que sempre tem, esse acho que é nosso quarto show junto, e cada vez mais aprendemos a tocar juntos, e vamos aprendendo.

P: Como foi ver a galera respondendo bem ao show, e até cantando num belo coro ”Dance Excuse” ?

R: ”No três todo mundo fala do caralho. 1, 2, 3… do caralho”. Dance Excuse foi a música que nos trouxe pra cá, a galera com a letra decorada, foi arrepiante, a gente é uma banda recente, não esperávamos isso. Sempre no nosso show só dá os amigos, e a galera toda cantando foi legal. Foi nosso primeiro show cantando música só autoral, foi a Austrinus cantando Austrinus, e não outra coisa.

P: Lançaram ”Motoboy” ontem por algum motivo especial ?

R: A gente lançou ontem pensando em divulgar hoje, e esperamos que a galera goste.

P: Esperançosos ?

R: A torcida tá grande, mas a experiência já valeu. Não achávamos que ia ser tão bom assim, torcemos pra tocar na Festa de Arquitetura porque ia ser muito bom, mas já valeu.

P: E se passarem pra final, o que podemos esperar ?

R: ”Bem, a gente vai fazer…” xiu, é surpresa.

Eu queria ter ouvido a banda novamente e ter descoberto o que seria essa surpresa, mas a Austrinus não se classificou para final.

Após a Austrinus, achei que nenhum show fosse superar. Não sei se superou, mas a quarta banda, The EgoRaptors, não deixou a desejar.

Depois de três bandas, alguma teria que ir pra final, e eles foram, e justamente! Incontestável resultado. Tinha sido o show mais animado até o momento, com direito a mosh e tudo do bom e do melhor num show de rock. A banda, na verdade é uma dupla, e mesmo assim, faz um ótimo show e surpreendente. A experiência e segurança que passaram no palco foram dois dos principais fatores que os levaram até a final. Confira:

P: Vocês eram uma banda mais experiente, como uma carreira maior. Teve mais pressão ?

R: Então, não acho que somos mais experientes não, tivemos mais correria, não to falando que as outras não tiveram, mas gravamos os clipes, as músicas, na correria. Fizemos um ano de banda tem cinco dias, então não acho que somos mais experientes.

P: Por que optaram por ter a banda só com vocês dois ?

R: É bem mais fácil, somos primos, moramos juntos, então a comidade é bem maior. Não falo que não vamos ter baixista nunca, pode rolar um dia, mas por enquanto nossa cara é essa.

P:  E quando viram a galera pulando do palco, fazendo as rodinhas e animando o show, o que acharam ?

R: Foda pra caralho. Teve uma menina que pulou lá também, e tava de saia, tivemos uma visão privilegiada do palco. Voltamos de uma mini turnê no Sul agora, e lá foi assim também, a gente nunca espera, só chega no palco e toca. Acho muito legal, se não tivesse tocando pulava lá no meio fácil.

P: Tão confiantes em passar pra final ? E se passarem, vão tocar o que ?

R: A  gente quer passar, quem não quer, e estamos confiantes sim, fizemos nosso trabalho. Tem muita banda boa, só esperar. E se passarmos, vamos quebrar tudo de novo, com algo do primeiro disco, música agitada e fácil também porquê já to meio embriagado.

Como já dito, eles foram para final. Comentarei sobre isso depois.

A quinta banda era a atração mais aguardada. O público que eles levaram era grande, mas conquistaram um maior ainda. Já conhecida pelo Rock de Verdade, Virtuvia.

A música que os levou para o Fau Fest passou pelo Rock de Verdade, e você pode conferir clicando aqui. O show foi inexplicável. O vocalista João Paulo Florêncio surpreendeu a todos. A presença de palco, a interação com o público foi coisa de gente grande. A banda que existe a quatro meses foi a que marcou o evento, até mosh rolou também. Foi a única banda a tocar um cover, sendo ”Óculos’‘, do Paralamas do Sucesso, e a o público respondeu bem.

O coro feito pela plateia gritando o nome da banda foi marcante. Infelizmente, não passaram para final, mas eu tenho total certeza que deram dor de cabeça pros jurados. Alguns fatores atrapalharam a banda, e na entrevista à seguir vão saber o quê:

P: Como foi subir ao palco e ouvir a casa inteira gritando o nome da banda ?

R: Velho, primeira vez que subimos no palco de verdade, e foi foda. Ver o público cantando, interagindo, foi bom demais

P: A última música que tocaram foi inédita e a mais animada, mas mais cedo me falaram que nem nome tinha, e na hora, o João a batizou de ”Mascarates”. Como foi isso ?

R: A gente fez a música, e na hora de escolher o nome, foi Astronauta do Amor, mas não pegou nada bem (todos integrantes da banda começaram a gritar ”gay” na hora da entrevista). A música é agitada, esse nome não combinou. Na hora eu inventei um latim e acho que deu certo, foi irado.

P: Ver o povo cantando, pulando e se batendo, como foi ?

R: Simplesmente foda!

P: E o que aconteceu com a bateria que vi vocês reclamando agora pouco ?

R: Velho, primeiro tava sem retorno, segundo que sabe Deus porquê, mas os pratos tavam caindo, e o pedal travou do nada, tive que segurar o bumbo duplo só com a esquerda, mas no final deu tudo certo e foi legal pra caralho.

P: E se forem pra final ?

R: Estamos confiante, nosso público reagiu de um jeito diferente de todas, e se formos pra final, vamos ganhar. A música que separamos pra final, o show inteiro que tocamos agora é visando a final. Nossa obra prima tá lá, esperando pra ser tocada.

Show frenético, que levou todo público a loucura e me deixou muito curioso pra ouvir essa obra prima, mas a última vaga da final ficou com a Molécula Tônica.

A banda era a mais diferente do evento. O uso dos metais dão o toque especial e identidade ao grupo. A banda existe desde 2006, e fora eles, a banda mais velha tinha um ano de existência. Eram os favoritos, e mostraram o porquê. Performance impecável, sem nenhum erro (tudo bem que tinham Renato Russo na banda, mas ok).

O que mais chama  a atenção na apresentação é justamente isso, a sincronia no palco. Foram o último show da noite, desmontaram todo o equipamento, e dez minutos depois tiveram que montar de novo para tocar na final. Acho que não foi um trabalho ruim pra banda. Não consegui entrevistá-los na hora, e sinceramente, fiquei até meio nervoso em falar com uma banda experiente assim, mas depois consegui conversar com eles. Confira:

P: Vocês eram a banda mais experiente do evento, a maioria lá tinha nem um ano junto. Vocês sentiram uma pressão diferente levando isso em conta ?

R: Não sei se da pra dizer que sentimos uma pressão diferente, mas cheguei a comentar isso com o pessoal e brinquei falando que ali nós éramos os tiozões e tínhamos q mostrar serviço, justamente por estarmos juntos há tanto tempo e algumas bandas não terem nem um ano de existência. Mas acho q isso nos deu mais segurança do que causar pressão, pelo fato termos experiência de palco, de sabermos nos comunicar visualmente, (mesmo de óculos escuros) e já termos um publico fiel e que sabíamos que estaria lá.

P: Esperavam ter o resultado que tiveram no Faufest ?

R: Sim e não, subimos no palco confiantes e saímos com a certeza que demos o nosso recado, todas as bandas mandaram muito bem, tenho certeza todas deram trabalho aos jurados, então se outra banda ganhasse entenderíamos o resultado.

P: A Molécula Tônica teve alguma preparação especial pro evento, ou foi ”mais um trabalho, vamos” ?

R: Na preparação do repertorio não, fizemos como sempre fazemos, montamos o set list e ensaiamos como se estivéssemos no show. Mas fizemos uma coisa que quase nunca fazemos, que é o figurino, normalmente ele é livre, só não vale cinza, mas dessa vez resolvemos representar bem o ska two-tone e fomos de preto e branco e o vocal com outra cor pra destacar.

E fomos para a final: The EgoRaptors x Molécula Tônica. Na entrevista com o vocalista da EgoRaptors, ele me confessou ser fã da Molécula, então creio que ficou feliz em dividir o palco da final com eles. A Molécula tocou, uma apresentação melhor que na fase eliminatória, e o mesmo valeu para a EgoRaptors, mas só uma iria sair vencedora, e foi… Molécula Tônica! Claro que o Rock de Verdade falou com a banda sobre a vitória, veja:

P: Qual foi a sensação após saberem que ganharam o Fau Fest ?

R: Muito boa, primeiro que demorou um pouco pra ficha cair, depois foi só alegria, passar por alguma seleção sempre renova o folego da banda, e nos da a certeza de que estamos fazendo um ótimo trabalho, fora que a Festa da Arquitetura é do caralho, e tocar nela vai ser uma ótima experiência e oportunidade pra mostrar nosso som, até porque até a festa  já estaremos com nosso CD pronto e teremos muito trabalho fazendo a divulgação dele.

P: O que o público pode esperar pro show na Festa de Arquitetura, e o que isso significa pra vocês ?

R: Pode esperar um som de responsa, de qualidade e dançante, ninguém vai conseguir ficar parado, pode esperar também novas composições que estão encaminhadas, muita alegria e MUITO SKA! Pra gente significa uma puta oportunidade de mostrar nosso som, são poucos os eventos que atraem um grande publico onde uma banda independente possa mostrar seu trabalho e ainda mais pro nosso estilo, os grandes eventos em sua maioria são sempre mais voltados pro rock e isso fecha um pouco as portas pra gente. Quem for na Festa da Arquitetura não vai se arrepender!

Parabéns Molécula Tônica pela vitória, e parabéns pela organização também pela iniciativa de ajudar as bandas independentes, somos gratos! As outras bandas, vocês fizeram o festival ser o que foi.

 

Antes de finalizar a matéria, quero fazer uma observação. Para quem diz que eu não sou imparcial, que eu apoio mais algumas bandas, realmente, não sou imparcial, nem um pouco. Se o show, seu som, for uma merda, eu vou dizer, ”o show foi uma merda”, e se show for um verdadeiro espetáculo, farei do mesmo jeito. 

 

Eduardo Rodrigues

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