Sepultura: “The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart” [2013]
O Sepultura é uma das bandas mais regulares do metal. Mesmo com todas as críticas, consegue lançar discos de altíssimo nível, independente das mudanças sonoras propostas de um trabalho para o outro – ponto positivo, aliás, porque no mundo da música é bem complicado fazer a mesma coisa várias vezes.
Mas algumas coisas pareciam apontar para caminhos ainda mais diferentes no 13° álbum de estúdio do grupo. A começar por um detalhe: o título. Acostumado a lançar álbuns com títulos de apenas uma palavra, a banda nomeou o novo trabalho como “The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart“.
Se algo completamente diferente marcava o título, a produção era assinada por um antigo conhecido da banda: Ross Robinson, produtor do clássico “Roots” de 1996, voltava a trabalhar com o grupo. A impressão deixada é que o Sepultura faria uma volta às raízes. Mas seria ruim limitar o Sepultura a uma mera volta às raízes. A banda está sempre se reinventando, encontrando novos elementos e inspirações para seus discos. Contou com uma evolução técnica ainda mais notável com a entrada do prodígio baterista Eloy Casagrande.
Não foi diferente em “The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart“. A mescla entre as raízes e novas influências aconteceu mais uma vez. “Trauma Of War” abre os trabalhos de forma bem acelerada. É o cartão de visitas de Eloy Casagrande, estreante no Sepultura. Destaca-se a técnica envolvida na cozinha de Casagrande e do baixista Paulo Xisto Jr. “The Vatican“, que receberá um videoclipe nas próximas semanas, tem início climático, lembrando música sacra. Logo cai para a pauleira, novamente com muita velocidade e riffs pesados do guitarrista Andreas Kisser.
“Impeding Doom” é mais cadenciada e oferece maior destaque aos vocais de Derrick Green, que realmente se desdobra para oferecer uma performance muito acima da média. “Manipulation Of Tragedy” tem ritmo quebrado, diferente, o que dá personalidade à canção. Eloy Casagrande dá show novamente. A faixa é bem extrema, flertando intimamente com o death metal. O “miolo“, parte do meio da música, se destaca, por bom trabalho de percussão aliado às cordas de Kisser e Xisto Jr.
“Tsunami” dá sequência com um despejo de riffs de impacto. É mais cadenciada do que as faixas anteriores, mas ainda assim não é desacelerada. Grande preocupação com a construção instrumental. Tem mais a cara do Sepultura dos últimos discos. “The Bliss Of Ignorants” inicia-se com uma rítmica interessante, com a tradicional proposta de percussão do Sepultura, diferenciada e com um toque tribal. Logo, a faixa descamba e alterna entre momentos pesados e cadenciados.
“Grief” começa mais lenta, com um dedilhado em guitarra limpa. Os instrumentos entram por completo por volta dos 2 minutos de faixa. É a canção mais melódica do álbum, que se alterna entre o início lento e a presença de todo o instrumental por duas vezes. Um pouco dispensável. Quase uma vinheta, só que longa. “The Age Of The Atheist” lembra bastante o Sepultura dos últimos álbuns, que particularmente me agrada bastante. Um pouco mais focado em melodia, sem tanta agilidade nas batidas, mas sem abandonar o peso.
“Obsessed” tem a introdução feita por percussão e vai aumentando a velocidade, até se tornar um genuíno death metal. A faixa tem participação de Dave Lombardo, ex-Slayer. Derrick Green é colocado em segundo plano, tamanho o peso do instrumental. “Da Lama Ao Caos” encerra o trabalho com muita classe, sendo uma das melhores da tracklist. Andreas Kisser assume os vocais e oferece uma versão pesada do clássico de Chico Science & Nação Zumbi. Final apoteótico, complementado por um solo de bateria escondido minutos após o fim da canção, gerado em uma jam entre Eloy Casagrande e Dave Lombardo.
Sob meu ponto de vista, “The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart” flerta mais com as vertentes mais extremas do metal do que em álbuns anteriores. O thrash metal com o groove sempre presente marca o trabalho, mas com inserções de elementos do death metal. Está mais brutal do que o habitual. Em alguns momentos, isso oferece mais dinamismo. Em outros, acontece o contrário.
O instrumental impecável mostra que Eloy Casagrande cumpriu bem sua função, aliado aos competentes Paulo Xisto Jr e Andreas Kisser – este, mais inspirado do que de costume. Derrick Green é um grande vocalista, mas precisa de mais liberdade para soltar a voz e de ser mais privilegiado na produção, sendo o único ponto falho de Ross Robinson ao meu ver. No mais, “The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart” é um álbum acima da média.
1. Trauma of War
2. The Vatican
3. Impending Doom
4. Manipulation of Tragedy
5. Tsunami
6. The Bliss of Ignorants
7. Grief
8. The Age of the Atheist
9. Obsessed (com Dave Lombardo)
10. Da Lama ao Caos (Chico Science & Nação Zumbi cover)
Fonte: revista.cifras.com.br
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