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Mal produzido mas inspirado, Charlie Brown Jr dá adeus com álbum denso

 

Charlie Brown Jr: “La Família 013” [2013]

 

A espera acabou. Durante essa espera, outro integrante do Charlie Brown Jr, o baixista Champignon, morreu. Mas finalmente “La Família 013” chega ao público. O trabalho vazou pelo site Deezer inicialmente, e agora foi lançado pela Somlivre.

 

La Família 013“, inicialmente, visava homenagear o cantor Chorão, que morreu em março deste ano, aos 42 anos. A homenagem, agora, também serve para Champignon, que como já citado, também faleceu – em setembro deste ano, aos 35 anos.

 

O trabalho já estava sendo preparado e estava em fase de retoques finais. O single “Meu Novo Mundo” já havia sido divulgado antes mesmo da morte de Chorão. Mas a morte do cantor fez a música explodir e ressaltou a necessidade do lançamento do disco.

 

 

La Família 013“, evidentemente, não estava pronto. É notável que os vocais não estão bem reproduzidos e que, muito provavelmente, seriam regravados. A produção também deixa a desejar, em comparação aos outros discos do Charlie Brown Jr, que sempre contaram com ótimo trabalho de estúdio.

 

No entanto, especialmente em algumas músicas, é um dos trabalhos mais inspirados da banda. As letras soam autobiográficas e o disco em si tem um clima denso. As músicas, quando não são mais pesadas, são mais tristes. “La Família 013” é um pouco dark, apesar de seguir a identidade do grupo santista. E parece prever as tragédias que aconteceriam.

 

Um Dia A Gente Se Encontra” é o típico rock feito para rádios, com bom refrão e ganchos melódicos bem feitos nas guitarras. Típica abertura de Malhação. “Final Arte” resgata a influência do reggae. A letra é fraca, mas o instrumental é interessante. “Cheia de Vida” é daquele hardcore grudento que o Charlie Brown Jr faz bem. A música não é pesada, em termos instrumentais, mas é densa, pela atmosfera que provavelmente Chorão vivia na época.

 

 

Meu Novo Mundo” é a música inicial de trabalho do álbum. A baladinha é calma e bem melódica. A letra, em clima de presságio, é o destaque. Chorão parecia prever o que aconteceria com ele. Ou talvez seja só teoria da conspiração. “Do Jeito Que Eu Gosto, Do Jeito Que Eu Quero” é enjoativa, dispensável, e novamente conta com a atmosfera densa. É importante ressaltar: não é peso, mas densidade.

 

Rock Star” dispensa um pouco o clima ruim de algumas canções anteriores e parece ser uma sequela dos primeiros álbuns do Charlie Brown Jr, que se destacam justamente por serem despretensiosos. O instrumental dá um show de técnica. “Vem Ser Minha” traz novamente o reggae em evidência, algo que não acontecia muito nos álbuns anteriores. “Hoje Sou Eu Que Não Mais Te Quero” resgata a atmosfera pesada de outrora, mas em uma música de mais qualidade, em que os instrumentistas se destacam novamente.

 

Camisa Preta” mostra um aspecto lamentável de Chorão como compositor: repetir o que ele já fez anteriormente. O refrão da música é o mesmo de “Tarja Preta“, do álbum “Bocas Ordinárias“: “somos poucos mas somos loucos; ninguém segura o visionário, o bicho solto; um ser humano nunca é igual ao outro; mas um guerreiro é que salva o outro”. O segundo momento “verso”, por sua vez, é copiado completamente de “Di-sk8 Eu Vou”, do álbum “Tamo Aí Na Atividade“: “meu nome é Chorão, eu sou linha de frente; mas esqueço do mundo quando ando de skate […] como penso, como sou”. Estrofes completas copiadas por aparente falta de criatividade. Apesar disso, os solos de guitarra são ótimos.

 

 

Vou Me Embriagar De Você” segue o padrão de baladas do Charlie Brown Jr, com destaque para a melodia conduzida pelas guitarras. A performance de Chorão poderia ser mais empolgada, mas trata-se de uma boa música. “A Mais Linda Do Bar” apresenta influência do blues rock, algo raro na trajetória do grupo. Ao estilo Camisa de Vênus, que tanto influenciou Chorão e companhia. Ótima.

 

O final do disco é melancólico. “Samba Triste” começa no violão e é seguida por guitarra, mas sem baixo ou bateria, apenas uma cama de teclados ao fundo. A balada soa levemente caótica, justamente pela guitarra distorcida, que provoca tal efeito. “Contrastes Da Vida” tem uma melodia um pouco mais positiva, comandada apenas por violão, mas a canção parece, novamente, anunciar a tragédia que aconteceria. “Mesmo os mais fortes às vezes não encontram uma saída; mesmo os mais sábios às vezes não encontram a saída; vivendo e aprendendo a viver com os contrastes da vida; quando tudo se torna previsível não e se espera mais da vida”, diz o desiludido refrão.

 

 

Chorão (vocal)
Champignon (baixo)
Marcão (guitarra, violão)
Thiago Castanho (guitarra, violão, teclados)
Bruno Graveto (bateria)

 

01. Um Dia a Gente Se Encontra
02. Fina Arte
03. Cheia de Vida
04. Meu Novo Mundo
05. Do Jeito Que Eu Gosto, Do Jeito Que Eu Quero
06. Rock Star
07. Vem Ser Minha
08. Hoje Sou Eu Que Não Mais Te Quero
09. Camisa Preta
10. Vou Me Embriagar De Você
11. A Mais Linda do Bar
12. Samba Triste
13. Contrastes Da Vida

 

 

Fonte: revista.cifras.com.br

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