Perdoe meu francês, mas… eu não falo francês. Na verdade, era só uma referência a um filme antigo que você, provavelmente, já viu milhares de vezes na Sessão da Tarde. Oi, eu sou Da5vi – ou Davi Hughes, tanto faz – e há quatro anos comecei a escrever periodicamente no Rock de Verdade. Caramba, eu passei (venho passando, na verdade) por um inferno pessoal nos últimos quatro anos e, com os últimos meses de curso superior, não dá tempo para escrever nem um “A”, dirá fazer todos os vídeos que o William e o José, meus parceiros de site, queriam tanto que eu protagonizasse.
Foram quatro anos em que, pessoalmente, aprendi muitas coisas (GRAÇAS A DEUS estou escrevendo infinitamente melhor que em meu primeiro texto) e vivi tantas outras. Não sou mais o molecão que apostava todas as fichas no mainstream. Porra, sendo bem sincero, sou dessas pessoas malucas e bizarras que as vezes acordam com Heart Shaped Box na cabeça e pensam “já não sou quem ontem fui”. Profundo.
A verdade é que quando comecei a escrever por aqui, me sentia parte de algo que fosse a esperança para a cena do rock brasileiro, a diferença. Tipo a Avril Lavigne no meio de todas aquelas artistas Britney Spears–wannabe no início dos anos 2000 (tinha que citá-la, for old times sakes). Hoje? Bom, aprendi a aceitar o ciclo das coisas. Dizem que “tudo o que vai, volta”, e quem entende de moda pode afirmar isso sem gaguejar, mas no tempo certo. Isso quer dizer que poderia escrever vários ensaios sobre como Black Hole Sun é uma música incrível e profunda em diversos sentidos que, ainda assim, não iria fazer um jovem do outro lado da rede pegar uma guitarra e montar uma banda improv estilo o que acontece em Sing Street.
Sou um dos últimos millenials a acreditar nas guitarras e, a de fato, sentir saudade delas. Fico mais restrito ainda quando penso que nem meus amigos mais velhos (ou parte considerável deles) pensam em turbinar uma coleção de CDs ou Vinil nesses tempos sombrios de Spotify, YouTube e a modinha da gratuidade – que apesar de propagar o som da galera mais rápido tira completamente seu “valor” na mente de quem consome. E se pensar que um número menor de pessoas dá valor a uma música bem escrita e elaborada a ponto de produtores suecos bolarem um cálculo bizarro para fazer hooks repetitivos de 7 segundos (esse é o tempo que as pessoas julgam uma música antes de trocar de estação de rádio ou dar pass na playlist)… bizarro, eu sei. Na minha cabeça, tudo está escalado ao nível “episódio louco de Black Mirror“.
Algumas bandas independentes, coitadas, são tão loucas para entrar no mainstream que sequer tratam a gente – a “mídia independente que acredita na cena” – com respeito. Não agradecem quando propagamos suas músicas ou compartilham nossos links. De que serve seu desrespeito quando – hahaha – nem o Bang, provavelmente o álbum nacional mais bem sucedido desses novos tempos, vende um milhão de cópias?
Os tempos mudaram e cada vez menos sinto prazer em participar dessa ilusão chata do mundo pós moderno. A cena vive hoje sob a fantasia de que, com a “independência” proporcionada pela internet, ser a next big thing está a alguns likes de distância. No mundo real, não é assim que a banda toca. A cena independente é mais bagunçada que meu quarto e – Deus meu – falta profissionalismo e o principal: originalidade.
Me pego ouvindo trabalhos bacanas de bandas que recebo por e-mail ou vejo em festivais, porém nada soa inovador o suficiente para deixar o mainstream boquiaberto. Perdão pelo senso comum, mas não vejo em ninguém as ganas de produzir algo tão impactante quanto o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band e… sabe? Fico triste com isso.
A bad ainda é maior quando vejo colegas do site falando da falta de respeito e de apoio da parte de algumas das bandas que entram em nossa caixa de entrada pedindo divulgação e sequer agradecem quando algum de nós consegue um tempinho entre ossos do trabalho (pois é, meus queridos, ninguém vive do site… tudo um “trabalho por amor”) para fazer uma resenha ou uma matéria super bacana sobre elas. A maioria nem compartilha o link, pra dizer a verdade. É tipo “eu nem acredito que esses trouxas consideraram falar da gente”.
Chegou um ponto em que vejo a equipe desmotivada, cansada e querendo desistir. Ninguém aqui espera que essas palavras façam o rock voltar para o mainstream (já estabelecemos isso no início; no entanto, talvez o novo álbum do Harry Styles dê uma ajuda), mas esperamos um dia nos depararmos com a próxima Nirvana ou o novo John Lennon para nos deliciarmos e nos orgulharmos de que, cacete, um puta som inovador está sendo produzido aqui no Brasil.
(E não gente, vão para o inferno dos caracóis com essa história de “o rock morreu”. Grandes artistas se foram, mas ideias, como diz o anti-heroi V, são à prova de balas)
O caminho a ser percorrido é longo e vem se demonstrando extremamente cansativo. No entanto, por mais que tenha negado no início, o jovem que acredita na música ainda está em algum lugar aqui, dentro de mim. Dentro da gente que faz o Rock de Verdade continuar vivo. Espero que também esteja vivo dentro de você.
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