Rugindo com os dinossauros

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Diabo colocou dinossauros aqui. Se é assim, então, graças ao Senhor!!! Musicalmente falando, apesar de não ser mais a era deles, não há quem seja fã de um som mais moderno (me inclua nessa, por favor) que não tire o chapéu para os tradicionais monstros do rock. Aqueles velhos conhecidos, boa parte, barbudos e de longas madeixas, que consagraram-se por levadas enérgicas, vocais rasgados, riffs e solos que seriam imortalizados por décadas a fio. Tudo isso, numa época em que a música, o modo de se fazer e gravar álbuns eram a metáfora perfeita do que conhecemos como “idade da pedra lascada” (risos). Foram anos duros em termos de recursos, é verdade, mas ao mesmo tempo, tudo soava natural e atual. E novidade, era tudo o que o público precisava naquele momento, principalmente os jovens. Por isso foi tão perfeito! E por isso, que o rock é o que é até hoje. Memorável!

 

Talvez seja essa a homenagem que o Alice in Chains queira passar com o nome de seu quinto e novo álbum de estúdio (sétimo se contarmos os dois EPs da banda), “The devil put dinossaurs here”. Ou, talvez, queiram apenas enfatizar a nova posição que ocupam no mundo da música. Porque, sim, eles também são monstros do rock. Já viveram seus dias como banda moderna e jovens precursores de um movimento. Atualmente, são vistos como referência para muitos outros artistas. Ou seja, os próprios viraram esses “dinossauros”. É claro que hoje os tempos são outros.

 

 

Há décadas que o rock vive a idade da pedra polida; desde os anos 90 e o grunge que lançou Alice in Chains e companhia. Naquela época, as gravações em estúdio já soavam grandiosas, uma tendência seguida pelo mercado musical até hoje, e que segue em constante evolução.

 

Mas apesar dos avanços tecnológicos e das inúmeras possibilidades de experimentação, que acompanham as bandas de hoje quando partem para dentro de um estúdio, o que se espera de uma banda que virou referência em um estilo (ainda mais em se tratando de rock) é o tradicionalismo. Era exatamente isso o que eu esperava, e foi exatamente o que encontrei em “The devil put dinossaurs here”. Algo tradicional.

 

Não estou falando de algo ultrapassado ou antiquado, por favor, não confundam com isso. É fato, o estilo de som que o Alice in Chains faz, definitivamente, não é o que se enquadra hoje nos padrões de modismo. Mas, se fosse um trabalho sem qualidade, não seria reconhecido, e não é o que acontece com o novo álbum da banda. Afinal, eles ainda tocam na rádio, inclusive aqui na terrinha verde-amarela.

 

O Alice in Chains soube se reformular ao longo dos anos. Desde 2005, quando ainda ensaiavam, diante de um público curioso e sedento por novidade, um álbum que culminaria o seu retorno, trouxeram William DuVall para assumir os vocais. Não é a mesma coisa que ter Layne Staley como frontman, é verdade, mas é impossível afirmar que o som da banda deixou de agradar seus fãs.

 

 

“The devil put dinossaurs here” soa exatamente como um fã de Alice in Chains gostaria de escutar. Bom… nem todos os fãs, é verdade; e gostaria de abrir um parênteses aqui:

 

Eu, falando agora como de Alice in Chains, tenho muita dificuldade de escutá-los sem a voz de Layne Staley soando nos ouvidos. É explicável; quando eu era um adolescente de quinze anos, escutava Alice in Chains assiduamente. Para mim, a voz de Layne Staley foi uma das vozes que marcaram minha juventude. Fica difícil de ver a figura de DuVall como frontman da banda. Apesar de ser o segundo álbum lançado com o atual vocalista, ainda o vejo como um mero agregado. Mas, antes que eu seja apedrejado, vamos fechar esse parênteses e ir ao que interessa, de uma vez por todas.

 

“The devil put dinossaurs here” carrega todos os elementos que o Alice in Chains já estampou em seus outros álbuns. São as levadas sincopadas de Sean Kinney, o timbre bem definido do baixo de Mike Inez, as aberturas de vozes que formam aquele “coro” hipnotizante, tão evidente nas canções da banda (uma tendência seguida desde “Dirt”, segundo álbum do AIC, de 1992, e declarada essencial no auto-intitulado álbum de 1995), e claro, o som explosivo da guitarra de Jerry Cantrell. E nesse recente trabalho de estúdio, mais do que Alice in Chains, a banda soa, mesmo, como Jerry Cantrell. Isso é indiscutível! De fato, ele sempre foi o cabeça da banda, e tenho idéia, hoje, de quanto isso está evidente, mais do que nunca. Staley, um dia foi a voz, mas Cantrell sempre foi e sempre será a alma. Se Alice está acorrentada, essa corrente é Cantrell.

 

Seria impossível existir um Alice in Chains sem ele. “Hollow”, “Stone”, “Voices”… pegue qualquer canção nova do Alice in Chains (as três citadas acima, são hits dignos de entrar em “best of”, fácil!) e tente não encontrar algo que seja característico do guitarrista de, não mais, longas madeixas loiras. Completamente impossível! Cada uma com sua pegada distinta, e todas com a pegada dele, Cantrell. Seja em peso de guitarra, em vocais arrastados e melodias que viajam por um longo trajeto sobre o peso de suas bases musicais, é impossível se desvencilhar da figura d’O cara!

 

 

Não seria difícil de imaginar esse mesmo álbum sendo lançado como mais um de sua carreira solo. E para quem conhece e gosta do trabalho de Cantrell como artista solo, não se decepcionará nem um pouco com “The devil put dinossaurs here”, esse álbum de capa vermelha, com o fóssil da cabeça de um tricerátops estampando bem ao centro de seu quadro.

 

Tendências minimalistas, você me pergunta? Eu diria que estão mais para tendências nostálgicas. Fica claro que o Alice in Chains não quer mudar suas características, não quer se entregar ao que há de popular e que é parte de uma fórmula certa para o sucesso urgente, que todos pedem nos dias de hoje. Não, eles não precisam disso. Eles querem fazer o mesmo som de sempre, que deixa claro que eles estão aqui, por serem eles mesmos, monstros, dinossauros do rock!

 

Abaixo, a primeira versão para videoclipe de “Stone”, onde se pode acompanhar a letra da música, que se sobrepõe à belas imagens:

 

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