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Salvadores Dali lançam primeiro disco autoral

Letras densas e repletas de questões se contrapõem aos arranjos dançantes, divertidos e ao groove despretensioso dos anos 80, que pontuam as melodias e os arranjos das sete músicas autorais – além de uma versão roqueira de “3 Apitos“, de Noel Rosa – do primeiro disco da banda carioca Salvadores Dali, distribuído pela CD Baby, e já disponível nas principais plataformas digitais.

Os Salvadores Dali são fruto de uma amizade que nasceu há 30 anos. J. Moraes, baixista do grupo, e Nelson Ricardo, autor das composições, se conheceram na escola e tinham o projeto de formar uma banda de rock. Mas só agora, depois dos doutorados em Sociologia e em Filosofia, os agora professores retomaram a ideia original do grupo, que ganhou o reforço nos vocais de um dos atores-cantores mais requisitados do Teatro Musical, o paulista Guilherme Logullo, protagonista de espetáculos premiados como “Nelson Gonçalves – O Amor e O Tempo” e “Bibi – Uma Vida em Musical“.

Em canções como “Não Passará” – que já possui um videoclipe- e “Emboscada Final“, os Salvadores Dali criam um clima leve, de amigos de longa data que tocam e se divertem, capitaneados pela interpretação teatral de Logullo e pelos arranjos dançantes da banda. No entanto, temas densos conduzem os versos. Em “Emboscada Final“, por exemplo, os conflitos agrários são narrados e colocados em pauta na letra que remete a heróis da luta por justiça agrária no Brasil. “Logo em seguida tiros mil // Um do lado meu caiu // Deus me ajuda, agora gritei // Corri de um lado para o outro // Chovia bala em mim // Eu cercado na fome, no inferno da caatinga“, diz a letra da música.

Quem somente ler a letra terá uma percepção oposta de quem apenas escutar a música sem atenção ao que é cantado. A letra é forte, provoca uma forte tensão, mas junto ao ritmo dançante produzimos uma espécie de paradoxo: uma espécie de reconciliação que não se resolve, mas permanece em movimento nessa oposição entre o que é cantado e a percepção rítmica, corporal da música. Esse é o eixo central de nossa estética. Músicas que divertem, fazendo dançar, mas que também provocam reflexões fortes“, diz J. Moraes, doutor em Estética Contemporânea e baixista do grupo.

Ainda compõem a banda o baterista Jorge Casagrande, diretor de uma das escolas de bateria mais conhecidas do Rio de Janeiro; o músico e produtor Marcio MM Meirelles; e o saxofonista Robson Batista. O Rio de Janeiro e o “jeito carioca de ser” também estão presentes no repertório de canções perdidas da adolescência, agora revisitadas por arranjos criados pelo grupo, como as músicas “São Salvador” e “Malemolência na Lapa“. A primeira, uma alusão à praça carioca alegre e repleta de bares, localizada no bairro das Laranjeiras, conhecida por sua efervescência de ideias e encontros.

São Salvador é uma música instrumental daquelas que ouvimos no rádio do carro no caminho para a night. Que você escuta e já entra no espírito noturno carioca, se engajando na nobre missão de se divertir“, conta o baterista Jorge Casagrande. Já “Malemolência na Lapa” reflete um pouco da “alma carioca” presente no tradicional bairro. “O tema da música é a sensualidade, uma alegria quase leviana, malandra, e até irresponsável, que curiosamente é algo que muitos atribuem à imagem do carioca. Incluímos na música uma certa sujeira do bairro que traduzimos na guitarra mais saturada no final, uma sujeira que a gente gosta. Que a gente tá ali para se sujar“, brinca Marcio MM Meirelles, o guitarrista do grupo.

Pau Brasil” também faz uma forte crítica social. “Se refere a um Brasil que sangra, sendo espoliado pelas suas próprias elites. Uma elite do atraso, que nos mantêm no atraso“, diz o saxofonista Robson Batista. Ainda contestando nossos dias, a faixa “Extremos” traz uma metáfora sobre a trajetória do homem na Terra, com versos que remetem a questões como sustentabilidade e meio ambiente. “Descemos das copas das árvores // E fomos direto às planícies // E começamos a não entender // Por que tamanha destruição?”, são os primeiros versos da canção.

Completam o repertório do primeiro disco dos Salvadores Dali, “Transcendental“, uma balada suave, aparentemente romântica, mas cheia de reflexões profundas nas entrelinhas de seus versos; e “3 Apitos“, uma releitura de Noel Rosa. “Ainda reforçando nossa identidade carioca, escolhemos trazer uma nova roupagem para Noel Rosa por sua importância para a cidade e por ele ter sido um visionário no campo musical. O samba dos anos 20 era totalmente enraizado na sua origem africana, e Noel trouxe o cotidiano da boemia carioca para o samba, retratando aquela época como um cronista musical. Hoje, somos nós que nos apropriamos de sua genialidade para dar uma nova cara a ‘3 Apitos“, afirma o vocalista Guilherme Logullo.

Paralelamente ao lançamento do disco, os Salvadores Dali também darão continuidade ao projeto que iniciaram no YouTube, as Video Sessions, gravações feitas em estúdio com a presença de amigos da banda. Continua também a pesquisa sobre as raízes da MPB, que estão incrementando o repertório de cada novo show da banda.

Nina Grave

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