Chuva de Criatividade fortificada pelas raízes indígenas!
Pra quem não conhece essa galera: Arandu Arakuaa é uma banda brazuca do real e verdadeiro folk metal. Formada em Brasília, essa trupe mistura o heavy metal (em suas vertentes mais extremas) com música folclórica brasileira, em especial de temas indígenas. As letras são inspiradas em lendas e ritos indígenas, buscando desta maneira contribuir para divulgação e valorização das manifestações culturais dos povos indígenas do Brasil. O guitarrista e fundador do grupo, Zhândio Aquino, afirma ter nascido e morado até os 24 anos ao lado dos territórios dos povoado Xerente, no estado do Tocantis, onde teve contato com a música indígena e com músicas regionais brasileiras (baião, catira, cantiga de roda, vaquejada, entre outros).
Lançaram seu segundo álbum de estúdio intitulado “ Watô Akw? “, que significa tronco de árvore no Akwê Xerente. Tema que dá o norte para a arte da capa, a pintura corporal do grupo e as letras das músicas. O mesmo conta com cinco músicas no idioma Akw? Xerente (Watô Akw? – sou Indígena, Hêwaka Waktû – Nuvem Negra, Dasihâzumze – Brincadeira, Padi – Tamanduá, Wawã – Anoitecer “música instrumental”), três em Tupi (Nhandugûasu – Aranha Grande, Nhanderú – Criador, Sumarã – Inimigo); duas em Xavante (?wapru – Meu Sangue, ?predu – Ancião) uma em Português (Povo Vermelho).
O uso da viola caipira nas músicas realça ainda mais a brasilidade da banda. Zândhio usa uma guitarra viola, instrumento idealizado pelo próprio músico. Mas nesse novo álbum houve a introdução de muitos instrumentos de uso indígena, principalmente os de percussão e sopro, se destacando o uso das flautas Uruá e Enawenê-nawê.
Seguindo o play… As boas vindas são dadas pela faixa título “ Watô Akw? “, começando com batidas de pés, uma flauta, um lance tribal, um “apito”! Um lindo dedilhado de viola, Zândhio puxa os tribais, sentimos uma forte percussão. Pra mim, a melhor escolha pra uma introdução do que se seguirá. O segundo som é “Nhanduguasu”,uma paulada na orelha já com um riff de guita puxado pro metal, que faz a cama para os guturais de Nájila, mas com o fundo “dançante” já característico dessa galera. Música cheia de peso e lindas nuances, ouvimos a clássica viola combinada ao som, instrumento que remonta a brasilidade da banda, extenuada com a letra em Tupi, e segue com a calma vinda com os instrumentos de percussão e a viola, uma pausa, e… a menção sonora das canções dançantes indígenas, seguida do riff da guita trazendo o metal á tona de novo, o dedilhado violeiro e um coro combinado.
“Hêwaka Waktû” começa uma flauta “diferente” ao fundo, combinado aos instrumentos de percussão, me sinto em uma aldeia indígena. Assim o som segue, quase ouvimos uma cachoeira no fundo, temos os tribais muito bem combinados, e vem a porrada com os guturais, riffs powers na guita, a batera de Adriano e o baixo de Saulo trazendo ao peso o coração. A cachoeira então, fica clara e vem o Zândhio e seus tribais, muito especial esse som. Ao fundo ouvimos Nájila com o vocal limpo acompanhando Zândhio. O dedilhado de viola combinando com os chocalhos e maracás, terminado na clássica combinação dessa trupe: vocal limpo, instrumentos mais metais, maracás… Parabéns pela escolha como som de trabalho! (Algumas bandas costumam errar as vezes, eu acho.)
“Dasihãzumze” nos envolve com o clima mais “caipira”, com sua viola, chocalhos, e a voz limpa de Nájila. Segue com o canto tribal acompanhado de uma viola tímida, um som mais calmo, (lembrei da infância). Antagônico, vem “Padi” que inicia com uma flauta, eu acho, seguido de um riff de peso na guita, vem a batera acompanhada com o baixo, nos vocais limpos mais calmos “…Tahã za mo, Tahã za sa, Tahã za wara…”, que logo dão passagem ao gutural raivoso. Zândhio entoa o tribal, chocalhos, coro, parece uma história dessas cantadas. Tem um riff muito original na guita, e vem aquela parte dançante com peso. Que som é esse, se é loco.. Muito original e balanceado. Sem frescuras, segue ” Wawã” a viola segue calma, acompanhada de um prato da batera e o baixo, com uma percussão de leve no riff, dessas que dá vontade de acompanhar com palmas. O “apito”, e assim se segue. Som instrumental, com para acalmar os ânimos.
Para voltar a detoná-los em ” Iwapru”, que tem uma pegada bem metal já no começo, bateria mais pesada, riff entoado na distorção e Nájila no gutural. No refrão temos vozes limpas, Zândhio manda um solo de guitarra seguido de um dedilhado de viola, isso não é pra qualquer um ein. Vem “Nhanderu”, que começa com o que parece um piano, acompanhado da viola e voz limpa, que compõem uma atmosfera dançante e tribal. Logo o riff da viola volta, trazendo calma com uma chuva de fundo, o que se repete durante o play. E, temos um apito seguindo o tribal, a finalização é leve e perfeita. Seguimos com “Ipredu”. Já imaginaram um riff de guitarra combinar perfeitamente com uma viola caipira? Então, assim começa esse som. Nájila mostra sua voz crua, que logo se intercala com o agressivo e os tribais. Som curioso, cheio de peso e ao mesmo tempo de nuances tribais trabalhadas na calma.
Seguimos para os últimos dois sons: “Sumarã” e “Povo Vermelho”. O primeiro chama a atenção pra voz de Zândhio e Nájila combinadas, ambas cheias de sentimento, som encorpado no metal. Adriano mostra uma batera mais densa, a guitarra dança nos Power Chords. Esse, pra mim, é o som mais metal do play. Finalizando com um som em português, cheio de atitude: “Povo Vermelho”, “O povo vermelho resiste, enquanto houver terra, enquanto houver mata; povo vermelho resiste, enquanto houver espirito, enquanto houver sangue”… sem mais!
Chuva de criatividade! A gente se sente na aldeia, sente a raiva, a calmaria, a paciência, a maldade, a bondade, a natureza… Música é sentimento, e vocês conseguem mostrar isso como nunca tinha visto antes! Originalidade!!! Busca à nossa história verdadeira, homenagem ao povo que tanto sofreu nas mãos dos “caras pálidas”, que tanto dá valor a natureza, e com quem temos tanto á aprender!
Quero parabenizar a produção desse álbum, a qualidade sonora está impecável, os instrumentos estão balanceados na medida certa, as nuances entre um ritmo e outro dentro da música estão audíveis e muito bem organizadas. Assim, percebemos claramente a evolução sonora desse master grupo brasiliense. Não parem nunca!
Faixas:
01. Watô Akwe
02. Nhanduguasu
03. Hêwaka Waktû
04. Dasihãzumze
05. Padi
06. Wawã
07. Iwapru
08. Nhanderú
09. Ipredu
10. Sumarã
11. Povo Vermelho
A produção e mixagem de “Wdê Nnãkrda” é de Caio Duarte (a mente por trás do DYNAHEAD). A arte de Natalie e Bianca Duarte.
Banda:
Nájila Cristina – Vocais, maracás
Zândhio Aquino – Guitarras, viola caipira, vocais, teclados, maracás, flautas, apito, chocalho de pé
Saulo Lucena – Baixo, backing vocals, maracás
Adriano Ferreira – Bateria, percussão, pau de chuva, maracás
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