Há pouco mais de 2 anos eu iniciava esta coluna no rock de verdade falando sobre o Huaska. Falei sobre o surpreendente “Samba de Preto” (para ler o post, clique aqui) álbum que me conquistou completamente desde a primeira vez que o ouvi.
A existência de bandas como o Huaska são a prova da mais profunda paixão do brasileiro pela música e pelo rock em si. Eles, assim como várias outras, são a prova de que a cena independente no Brasil produz um som de muita qualidade e, sobretudo, muito criativo.
E neste 1º de Abril, entre tantas mentiras nas redes sociais, uma verdade incontestável: “Fim” é o melhor dos lançamentos que vi este ano até o momento e muito provável, um dos melhores do ano inteiro.
Temos uma série de diferenças do álbum anterior para este. O que chama mais atenção é que o Huaska é uma banda muito preocupada com a parte técnica do seu som, com masterizações sempre muito bem feitas e por conta disso eu achava que o “Samba de preto” era impecável. Contudo, em “Fim” a banda mostra sua capacidade de evoluir através dos álbuns e isso é um costume para eles. Sempre há uma evolução considerável de um álbum para o outro e isso é uma característica de grandes artistas que, muitas vezes, mesmo os grandes não conseguem fazê-lo.
As principais mudanças que nos apresentam este novo Huaska é, primeiramente, uma leve diminuição no quesito “bossa nova” e um aumento considerável das guitarras. A sensação que temos é que a banda depois de tantos anos, adquiriu uma identidade própria, um som característico deles e isso refletiu na liberdade de composição. A criatividade flui solta em “Fim” e não há medo algum de misturar influências que partem desde Tom Jobim e Vinícius de Moraes até Deftones ou alguma variação entre o rock alternativo e o post rock.
Vemos vocais mais soltos também e bem mais envolventes que o último álbum. Houve uma entrega muito grande do vocalista neste álbum e em algumas faixas como “Fim”, “Pode”, “Euvocê”, “Kuyashii” e “Canto de Ossanha”, as vozes são um elemento fundamental para a melodia da música.
Aliás, vale uma atenção especial para a faixa “Canto de Ossanha”. Mais um incrível cover. A capacidade desta banda de dar sua assinatura para músicas clássicas do samba é algo singular. Eu sempre gostei desta música na voz de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, mas neste cover (mais uma vez) o Huaska me ganhou. Principalmente ao final. “Canto de Ossanha” nunca pareceu tão sombrio.
Falando em sombrio, “Fim” é o álbum mais sombrio e dissonante da banda. E quando fala-se de “fim” como um conceito, temos a nítida impressão de que o fator emotivo neste trabalho é um caos incessante, uma angústia que não tem fim. Ao comparar o título do álbum com as músicas que o compõe, percebemos que o mesmo não se apresenta como a finalização de algo, mas sim pelo desejo de que algo acabe. Algo que em poesia do samba poderia ser traduzido pelos famosos versos, “tristeza não tem fim, felicidade sim”.
Este é de longe o álbum mais introspectivo da banda e os refrãos estão muito interessantes, ou seja, prevejo grandes momentos ao vivo.
E se eu pudesse definir numa imagem, tudo o que “Fim” apresenta, eu diria:
O álbum é como um pôr do sol a poucos momentos de acabar o dia. Um céu sem nuvens. Como o prelúdio de uma noite gelada.
Aperte o play e permita se surpreender.
Acesse a playlist do Youtube com o álbum na íntegra clicando AQUI.
Mais informações sobre a banda pela página do Facebook.